“Algum dia e qualquer parte, em qualquer lugar indefectivelmente te encontrarás a ti mesmo, e essa, só essa, pode ser a mais feliz ou mais amarga de tuas horas,” Pablo Neruda.
Estou voltando depois de um tempo fora do ar. Até tinha um artigo sobre “Momentos e Músicas” mas vou deixá-lo para mais tarde. Depois desses últimos dois meses e alguns papos recentes no Inconformidades – além dos tradicionais com meu terapeuta – hoje não vou falar sobre drinks, mas sobre a vida.
Se bem que drinks fazem parte da mistura da vida, mas dessa vez a história vai seguir sem acompanhamento etílico, apenas experiências recentes. Aprendi muito com meu pai – mesmos nestes últimos anos acometido pelo Alzheimer – e uma delas foi de celebrar as boas coisas da vida.
Talvez por isso, com a partida dele, eu venha escolhendo tanto estar com os amigos. Tem sido um tempo intenso, de risos, Negronis e… lágrimas. Não sei para quem já passou por algo assim, mas a experiencia da perda me levou a repensar meus 52 anos, à luz de tudo o que ele viveu na minha idade e o que eu realmente estou construindo ou desejo construir…
Troço delicado esse: a gente confronta não só nossos planos e conquistas, mas realmente o que a gente sente ou pensa da vida, e como a tem vivido. Meus pais foram casados por muito tempo. Eram daqueles casais super companheiros, que o povo acha lindo de ver e comenta com quem estiver do nosso lado…
Assistir minha mãe nesse processo todo de partida e luto me fez ver que algumas coisas que eu acreditei recentemente, não são verdade e que a minha essência e o que desejo mesmo são outros. Longe de conseguir alcançar os 60 anos de casado ou 65 anos juntos, nem dá mais tempo! Mas, sim, o senso de permanência e valor que estabelecemos nas relações… E o amor…
Ahhh, o famigerado amor. E aquele “das antigas’ sabe? Que consolida a coisa toda, respeito, paixão, cumplicidade, cuidado, carinho, paciência (porque precisa)… Enfim, esse tipo. Lembro dele (do amor) nos meus 35, quando conheci minha ex-mulher, me apaixonei, amei e casei.
Não tinha drink nessa época, era tempo dos whiskys com o sogro ou vinho em família. Foi o tempo do “construir família”, aprender a amar os filhos – que no inicio eram só “dela” – e viver o “modelo”; casa, filhos, cachorro, almoço de domingo… Enfim, o pacote completo!
Com os anos vieram os desafios, como a depressão, mas com ela veio a terapia. Comecei a ver as coisa de outro jeito e que, de repente, estava lá por amar as minhas filhas e não mais ela. Como ela também vinha com suas dúvidas, optamos por romper, e romper nunca é fácil.
Saí com 47 e o objetivo de manter o relacionamento com meus enteados e viver a vida, num suposto sentido de liberdade. Mudei para um apartamento legal, comprei o carro que queria, viajei para NY e voltei no modo “deixa a vida me levar”.
Abracei as ideias; “não vou casar de novo”, “casamento tradicional não precisa”, “ninguém vai me aguentar velho”. Amor e romance? Bom nos filmes, na música e na poesia. Bom…nessa época teve drink pacas!
Penso, hoje, que optei por “desempenhar um papel”, o do solteiro, bem-sucedido e livre… E o que não falta para isso hoje em dia é combustível. Tempo de muitos Negronis, Martinis e amores fugazes.
Em meio a coisa toda, um reencontro de infância e começa um relacionamento com uma pessoa realmente especial. Começou sem grandes paixões ou planos de estar junto, e seria a união perfeita. Bonita, inteligente, companheira, cumplice, parceira… Muuuuitos negronis, risadas e experiencias maravilhosas.
Mas… Lembra do tal amor?… Então, veio diferente para mim, acho que incompleto. E, para ela, veio de verdade, inteiro. Essa completude do amor fez falta, sem ele e sem paixão não via mais sentido em seguir e, infelizmente, deixei acontecer coisas que não precisava. E terminou.
Foram uns três anos e durante esse período, fui perdendo as coisas enquanto insistia no modelo de vida mais “raso”. Foram os filhos, foi o trabalho, foi gente que quis ficar e , de repente, me vi sozinho de novo e repensando a porra toda pela primeira vez em anos.
Comecei a ver que os sentimentos de amor e companheirismo não eram uma ilusão e que a permanência, o desejo de um plano comum de “envelhecer junto” era exatamente o que eu buscava, mesmo me enganando que não.
Hoje acho que “cumprir um papel” demanda tempo e energia demais, melhor é ser honesto com a gente mesmo e se esforçar nas conquistas verdadeiras.
Esses dias respondi ao meu estado civil como “à deriva”. À deriva é ficar lá, boiando, à mercê do vento. As vezes o vento bate e a gente encontra uma “ilha”, para, mas logo sai.
A deriva tem até seu lado bom, da solitude, do tempo com voce mesmo, do sossego. O lado ruim é ficar sem porto, seja um seguro, definitivo ou um que ao menos voce queira parar um tanto.
O bom da (matur)idade é sabermos um pouco mais sobre quem somos e o que queremos. Vejo, hoje, que quero sim, algo permanente, que casar de novo é possível. Quero envelhecer com alguém, com muita saúde, Negronis, risadas e danças.
Por que? Porque coisas difíceis vão acontecer e para elas a gente tem fé, família e amigos queridos, se os últimos dias me mostraram alguma coisa foi isso. Mas o bom mesmo é conquistar alguém especial, e ela ficar, primeiro uns dias, depois todos…
Bora levantar as velas, preparar aquele Negroni e torcer para um vento bom…
De tantas músicas, esses dias uma saltou aos ouvidos; “Still Out There Running” de Nathaniel Rateliff & The Night Sweats.
Nos filmes tenho buscado algo mais leve e tem um que sempre me diverte; “Nine” com Daniel Day Lewis sobre os desafios de um diretor cinquentão…
À vida!
8 comentários
Tudo maravilhoso… Texto, sensibilidade, entrega, verdades.
QUA QUA QUA QUA QUA (no melhor dos sentidos felizes)
Zé, se expor é nobre. Expor os outros é um tanto quanto deselegante. De minha parte gostaria de esclarecer que, sendo a “namorada da infância” e principalmente por conhecer a história de sua família, acolhi você na minha casa como faria com qualquer pessoa querida, que estivesse desempregada e precisando da minha ajuda em plena pandemia. Foi uma atitude humanitária e não de amor ‘completo”. Te desejo luz e proteção divina, sempre.
Amigo, estamos todos à deriva.. todos buscando amar e ser amado!
Vovó dizia … “o que é seu, sempre encontra um caminho pra chegar “ rs … bj Lu
Amigo, estamos todos à deriva.. todos buscando amar e ser amado!
Vovó dizia … “o que é seu, sempre encontra um caminho pra chegar “ rs … bj Lu
Expor a si, suas experiências, seus erros e medos, sabendo que podera (e com certeza será) julgado, não é para muitos. Parabéns pela reflexão, por conseguir enxergar que a vida a dois não é nada fácil mas que quando há tudo o que descreveu, amor, cumplicidade, respeito, etc., a relação pode dar certo!!! ??
Adorei!! Tomara que encontre um porto seguro!
Ótima reflexão!
??????
Auto reflexão com uma dose generosa do ego machista que nunca te faltou…homofóbico, acha que prega religião e é intelectual e bem sucedido. Caraca vc é demais…nem sombra do deprimido cheio de auto compaixão que rondava conta bancária alheia e de quebra, como a cereja do bolo, ainda se convenceu que tinha amor mas não seu? Cria vergonha nessa cara moleque, aprende a ser homem uma vez nessa vida.