Estava naquela dúvida cruel, sem saber se trazia o Carioca para a Suíça ou não. (“Sombras de um amor distante”). Resolvi seguir um dos poucos conselhos que meu pai me dera: “Quando você não se souber o que decidir, é porque não é hora de decidir. Em tal situação, o melhor é dar tempo ao tempo, por muitas vezes a solução virá naturalmente.” Assim, me deixava levar na confortável situação de esperar.

Me dava conta de que, com o passar das semanas, dos meses, já não sentia vontade de abrir os envelopes com as cartas de inúmeras páginas escritas pelo Carioca e muito menos de comparecer à cabine telefônica nos horários marcados para conversarmos. Inventava desculpas esfarrapadas, quando ele reclamava minha falta. E pouco me importava se ele acreditasse ou não. Suas cobranças tornaram-se um peso. E a saudade começou a dar lugar a um desconforto.

Robert Redford, o original…

Era um daqueles domingos longos de verão, o sol brilhava ainda quente e forte às oito horas da noite. Eu servia as mesas no lindo jardim do restaurante, como de costume. Vestia uma blusa branca, impecável com sua gola laço e uma saia preta talvez apertada demais, mostrando as curvas do meu corpo ainda jovem e musculoso. Peças compradas na cidade chique de Lugano, gastando com prazer pequena parte do dinheiro ganho com gorjetas. Era um daqueles dias em que olhamos no espelho e pensamos: sim, estou bonita.

Passos de salto alto soaram como música nos azulejos da varanda e me fizeram levantar o olhar naquela direção. O que vi me tirou o fôlego: uma mulher loura, jovem, cabelos amarrados num coque solto, alta, muito bonita, corpo esbelto, vestida com um jeans e uma leve blusa cor-de-rosa com grandes babados nas mangas compridas e escarpins também cor-de-rosa. A acompanhava um homem de uns trinta e poucos anos, cabelos claros, olhos imensamente azuis, musculoso, boa estatura e com cara de Robert Redford. Os dois pareciam ter saído de uma foto de revista de moda. Lindos.

Alfonso, o maître, logo veio ao seu encontro e os acompanhou até o lugar reservado previamente para eles. Eu rezava para que fossem colocados numa mesa que não fosse de minha responsabilidade, pois, sem saber porquê, fui imediatamente tomada por uma enorme insegurança. Porém, isso não aconteceu. Assim, logo tive que levar o couvert para a mesa do casal.

Ao chegar à mesa, eis que o homem me dirige a palavra, num inglês com um forte sotaque francês e diz: “Então certamente é você a brasileira bonita que trabalha aqui! Eu vim especialmente para te conhecer, ouvi falar de você. Meu nome é Frédéric. Frédéric Dubois. Esta é uma colega, Marie. E você, Susanne, verdade?” Falou isto enquanto acendia um cigarro com seu isqueiro Zippo e o jogava de volta na mesa com um jeito despojado.

Minhas pernas tremiam. Sem acreditar que entendera direito aquilo que ouvira, gaguejei um “sim”, pedi licença e corri à cozinha, para tomar um gole de água e deixar a respiração voltar ao ritmo normal. “Alfonso, por favor, não me faça voltar àquela mesa! Deixe a Brigitte servir o casal!” Alfonso se deliciava com a minha excitação e, muito pelo contrário, pediu-me que fosse servir o vinho a eles.

Receosa de não conseguir tirar a rolha da garrafa e servir corretamente o vinho, com as mãos trêmulas que estavam e tentando não deixar que percebessem meu nervosismo, voltei à mesa. “Eu sou cozinheiro e a Marie é recepcionista no hotel em Cademario, conhece?”, disse Frédéric. E sem esperar resposta, continuou: “Sei que você está sempre tomando sol no laguinho lá embaixo, a caminho de Sessa. É legal lá? Amanhã tenho dia livre e aqui o restaurante está fechado, eu sei. Vamos nos encontrar lá? Sei que você agora não pode conversar, o restaurante está cheio, seu chefe já está olhando… Sei bem como é. Às três horas da tarde, está bem? Te encontro lá. Ah! A Marie não vai, ela prefere ir gastar dinheiro em Lugano…” E sorriu, mostrando seus dentes perfeitos.

Robert Redford

Sim, entre os povoados de Astano e Sessa, num vale muito pitoresco, existe um lago pré-alpino, com uma água muito limpa e fresca vinda do rio Lisora que divide as duas cidadezinhas. De formato oval e com seus 120 m de comprimento e 60 m de largura, é um lago pequeno, fazendo jus ao seu nome, Laghetto, que, em italiano, significa laguinho. Lá eu passava a maior parte do meu tempo livre, tomando sol, lendo, ouvindo música e observando os pescadores de truta. Foi assim que desenvolvi minha paixão por águas doces, que descobri serem muito mais agradáveis do que a água salgada do mar.

Me parecia muito intrigante o fato de que as trutas eram trazidas vivas em um caminhão-tanque e jogadas no lago, para a prática do esporte da pescaria com vara. Pagava-se então por quilo pescado. Um grande passatempo para turistas e famílias que se hospedavam na região. Levei um tempo para entender o sentido de tal atividade, pois muito diferente do que era a pesca que eu conhecia de Baía Formosa.

O que eu não imaginava era que a minha presença constante no lago era já motivo de conversa até mesmo além das fronteiras da pequena cidade. Talvez… por causa dos meus biquínis brasileiros, bem diferentes dos usados pelas mulheres na região?

Fato é que, naquela segunda-feira, meu dia de folga, estava eu deitada no lugar de costume, quando vejo Frédéric atravessar o portão de entrada do Laghetto, pontualmente, às três da tarde! Brincando com seu isqueiro Zippo na mão, quando me viu, correu ao meu encontro e jogou-se ao meu lado na grama verde, sorrindo com aqueles olhos azuis como duas pedras de água marinha. “Que bom que você veio”, ele disse!

E então, eu pergunto a você: na minha situação, como não se apaixonar?
Você acredita, como eu, que um amor só se cura com um novo amor? Me responde lá nos comentários, se quiser. Vou gostar de saber o que você pensa. E se quiser saber no que resultou o encontro com o francês Frédéric Dubois, venha ler o próximo capítulo. Porque eu vou contar. Ah! Se vou!

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13 comentários
  1. Ah, se vou querer saber… claro!
    Vc não dispensaria um gato desses, nem eu!
    Vc foi pra França com o bonitão de olhos azuis?
    Aguardando… ansiosa…
    Beijos no seu coração ❤

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