Confesso que eu estava um pouco reticente em escrever sobre “Gentlemen’s Code”, o mundo anda tão chato que falar sobre cavalheirismo pode parecer “sexista” ou “misógino” para alguns.

Digo isso porque outro dia fiquei surpreso com a reação que recebi ao segurar a porta do elevador para uma jovem; um olhar fulminante seguido da pergunta: “Você está fazendo isso só porque eu sou mulher?!”

Como eu ando meio sem paciência (uma maneira leve de dizer que não tenho paciência nenhuma) eu respondi: “Era,” e entrei no elevador primeiro! Mas não sem pensar; que droga de sociedade é essa na qual uma gentileza é ponderada sob a lente do sexismo ou sei lá o que é isso…e triste ela ter uma visão tão equivocada do tanto que é “ser mulher”.

Gentlemen's code
Beadles Dime Etiquette Manual (1850)…
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Mas o povo está assim, é muita “mimiminoria” e tudo tem um significado ocluso. Como o grupo aqui é maduro e os assuntos mais diversos são tratados com um delicioso esclarecimento, vamos em frente esperando que eu não seja expulso por “falta de Conformidade”!

“Gentlemen’s Code” ou Normas de Cavalheirismo é um tema antigo, do meio do século 19, daquele tempo em que havia alguma preocupação com critérios básicos de civilidade e comportamento, dos homens e das mulheres.

Exageros de época à parte, algumas normas são básicas e válidas, ainda que em desuso. Nós homens gostamos dessa coisa de andar em bando, ter segredos e honra entre irmãos e tudo mais… Mas devo confessar que percebo na maioria um comportamento mais bruto e “paleozóico”, faltando o mínimo de camaradagem com seus pares, quanto mais o cuidado no trato com o sexo oposto.

Camaradagem e cumplicidade são tema para vários filmes, entre eles a série “Oceans 11, 12 e 13” são bons e divertidos exemplos. Quem não se lembra de Danny Ocean (Clooney) invocando o mantra “…Você apertou a mão do Sinatra…” a fim de despertar a consciência de Al Pacino?

Aliás, a menção é real em Las Vegas e remonta à década de 1960 quando Sinatra e sua turma – o “Rat Pack” – aprontavam por lá. Aliás, quem os apelidou foram Lauren Bacall e Humphrey Bogart que acompanhavam por vezes as artes de Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis e Peter Lawford.

As mulheres não ficam para trás não, o último “Oceans 8” traz um grupo fiel de ladras cheio de charme e elegância! Uma prova de que o “Código” é para todos. Mais simples do que muitos podem imaginar ele constitui uma “régua moral” baseada em valores universais e na sua prática.

Alguns exemplos:
Respeito e cuidado aos mais velhos, em qualquer circunstância.
Atenção, cuidado e respeito às mulheres. Por mais “prático” que você seja, presta atenção, cuide, elogie. Ninguém é obtuso ao ponto de não notar que a mulher está bem-vestida, cortou os cabelos ou está com um sapato bonito!

Mathew McConaughey e Michelle Dockery em “The Gentlemen” de Guy Ritchie


Atenção à apresentação pessoal. Nunca saia de casa de regata, por exemplo. Mesmo se for para ir para a academia, certifique-se que está com um shape decente! Senão, nunca saia de casa de regata. Ponto.

Vista-se decentemente mesmo no casual. Por favor, camisa de clube serve para ir ao jogo e só!
Se tem barba, cuide. Higiene pessoal é fundamental e perfume não faz mal pra ninguém. Se você é daqueles que acha que “cuidado demais” não é de “macho”, por favor fique na árvore ou na caverna que você habita. Pronto, falei!

Seja pontual e, quando em um compromisso, mantenha o foco no assunto e nas pessoas…este é difícil, eu sei, mas não custa tentar!

Tenha o mínimo de cultura literária, ou que seja “documentária”! Esteja pronto para participar de discussões genéricas, sem partidarismo e busque fontes fidedignas de informação. Se tem preguiça de ler, o Netflix pode te ajudar com alguns documentários que vão além do futebol.

Se você só fala de futebol – ou do mundo das socialites, no caso das mulheres – por favor, “leia o Estadão” e abra seus horizontes.

Não seja truculento nem “sequestre o papo”, principalmente em um encontro com uma mulher ou outros casais. Poucas coisas são tão desagradáveis quanto a pessoa que não deixa os outros falarem e finalizam todos os assuntos.

Fale baixo, sempre. Caso você esteja alcoolizado, fale baixo. Senão, fale baixo!!

Saiba beber e fumar. Você pode tomar um Rabo de Galo com elegância ou um Negroni como um pagodeiro, foco no primeiro.

Pague a conta e seja generoso na gorjeta. Seus amigos ou amigas ficam incomodados, apesar de não falarem. Ninguém gosta de gente mão de vaca. Se você é daqueles que “cata conta”, fique em casa mesmo depois da pandemia.

Seja honesto, mantenha a palavra e seja confiável, em tudo, sempre. Basta o que já existe de “171” e desonesto nesse País.

Quando acompanhado, abra a porta, conduza seu par com cuidado na multidão, ande fora do guarda-chuva ou do lado da rua. Isso jamais estará fora de moda.

“Quatro casamentos e um funeral” (1994)

Confirme seu encontro com antecedência (e sem encher o saco com 37 mensagens), procure lugares agradáveis e… se tudo está bem, espere momento certo para dar um beijo!!!
Saiba envolver e deixar se envolver na conversa…horas de conversa inteligente são tão sedutoras quanto um beijo. Se você não aprendeu isso ainda, vai treinando em casa.
Se você usa aplicativos, preste a atenção em tudo isso e tente pôr em prática… Eu sou “old fashioned” e acho aplicativo, no mínimo, desagradável, mas o negócio “virou meia” e quase todo mundo usa. Paciência.

Elogie, admire, preste atenção na pessoa. Se você escolheu alguém com pouco conteúdo, azar o seu, mas jamais diminua a pessoa que está com você: seja seu melhor amigo, seu marido ou sua mulher.

Seja responsável. Se errou, reconheça. Cometeu um deslize, peça desculpas.

Enfim, seja discreto, elegante e tenha hombridade no que fizer.
Tenho certeza de que, se você mandar esta lista para o maridão, ele vai falar “o cara é gay!’… Não é o caso. Mesmo porque a classe masculina está bem mal representada e tem gay mais “gentlemen” do que muitos homens por aí.

O fato é que, com 50+ a gente aprende algumas coisas, se esforça um pouco em outras e ainda erra.
Têm fontes mais interessantes do que meu texto como referência.

Eu gosto muito dos curtas da Johnny Walker e da Caruso (alfaiataria italiana); “Gentlemens Wager” e “The Good Italian” são deliciosos de assistir e trazem uma ótima referência das boas coisas da vida e de um comportamento elegante.

Então o filme de hoje é “Gentlemans Wager II” com Jude Law e Giancarlo Gianinni.

Na música, já que falamos do “Rat Pack”, vamos de Deam Martin com “Ain’t That a Kick in the Head”.

Até o próximo papo…
Cheers!

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9 comentários
  1. Que delicioso esse texto e salutar para a compreensão que cavalheirismo nunca ha de sair de moda! Educação e gentileza, sempre. Obrigada ☺️ amei a parte que entrou no elevador primeiro. Rs imaginei a cara de espanto da miminoria !! Tim tim

  2. Eduquei e continuo educando o meu filho para que seja assim, um gentleman. Espero muito que essa espécime não morra nunca! Lindamente escrito, um saboroso texto! Obrigada!

  3. TeMa que nao sai de Moda, embora alguns insistam que caiu em desuso. Nao tem coisa melhor do que conviver com pessoas educadas, homens e mulheres. Meu Marido, felizmente, é um cavaLheiro. Adorei o texto!

  4. Amei!!! Parabéns… Eduquei meu filho assim, fui educada por um homem assim e CASEI 2 vezes com homens assim… Homens COM “H” MAISCULO!

  5. Amei! E o texto vai pro maridÃo! Mas eu soube escolher e ele faz quase tudo Citado aí, mas falta lembrar de umas coisinhas! Kkkkk
    Ah, o meu filho detesta reGata ( deve estar no bom caminho) e a porta do carro o marido abre pra mim, mas filha reclama! ??

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