“Eu esperava que algo extraordinário ocorresse, mas a medida que os anos se perdiam, nada aconteceu a não ser que eu causasse…”
(Charles Bukowski)
Saudades de escrever para o Inconformidades! Sem dúvida, é uma da parte boas da vida; ler, papear e escrever neste grupo. No entanto nos últimos meses fui pego por uma nova rotina que, de repente, me levou da calma dos drinks e das leituras para um frenético envolvimento com trabalho.
Me vi nesse tal de “novo normal”, já ouviu falar? É um fator no qual muitos de nós saem de uma condição cheia de tempo para uma rotina onde ele é escasso. De supetão, passamos a sair correndo para tudo. Pode-se dizer que é um dos efeitos colaterais do Covid. E afeta mesmo os vacinados!
Perdemos a atenção, o foco, o cuidado: Vemos sem olhar, bebemos sem saborear. Entramos “no corre” onde vamos perdendo, de pouco em pouco, o “tudo” que vale a pena. Ou falta tempo ou estamos cansados para fazer qualquer coisa. Desde ler um livro até passar um tempo com a família.
Focamos em um trabalho (ou chamaria de emprego?) e sequestramos o tempo do que temos de mais precioso. A vida numa intensidade tal que o tempo do drink, do encontro, do sentir só diminui.
E não é só trabalho. Parece que o povo saiu das restrições da Pandemia e mergulhou em uma rotina frenética de relacionamentos expressos e fulgazes. É uma sequência de “shots” em que brindes se perdem. Um monte de selfies sem essência.
Perdem-se os drinks, suas essências e suas histórias. Num dia se conhece alguém incrível, no outro nunca mais se falam. Passa a ser rara a magia do encontro de verdade, aquele tranquilo, onde se escuta, observa e o papo flui durante horas…
Foi-se o olho no olho, aqueles segundos sem mais palavras que antecedem um beijo. Ou o simples prazer de admirar a pessoa que está do seu lado.
Gostei de ver o agito da semana em torno de um post onde o ator Oscar Issac olha (mesmo!) de um jeito elegantíssimo para Jessica Chastain…um verdadeiro “gentlemens touch”. Quanto cuidado, quanta delicadeza.
Nada contra experiências extraordinárias, para quem curte. Na vida a gente esbarra em algumas surpresas e às vezes pode ser interessante se deixar levar. Mas mesmo para estes amores relâmpagos, tem o tempo de sentir e curtir o outro.
Eu sempre digo que “é muito chopp e pouco Martini” … O povo vai na quantidade e já não saboreia mais nada. Vão as essências.
Me faz lembrar de um desses curtas que eu gosto, “The Good Italian III” onde “o príncipe” Giancarlo Gianinni ajuda um apressado Vittorio Grigolo a reencontrar a essência e a paixão, num passeio delicioso pelas boas coisas e bons lugares de Nápoles…
…e a estrofe de uma música que cresci com meu pai ouvindo; “The Good Life” com Tony Bennett
…”Oh, the good life
Full of fun, seems to be the ideal…”
Cheers to the good life!
1 comentário
José Ricardo: nunca havia ouvido a expressão ou a frase é muito chopp e pouco Martini”., mas com toda certeza ela resume este momento que me parece um surto coletivo. Seu pai acertou em cheio na frase.