Fiquei parada ali, vendo o carro ficando cada vez menor, até desaparecer na curva no final da rua. Dentro dele, lá ia meu único filho, nos seus tenros 21 anos, de encontro a uma nova fase na sua vida. No porta-malas, quase todas as suas roupas e outros objetos pessoais. No seu coração, felicidade e orgulho por ter conseguido uma vaga em uma das melhores universidades da Alemanha. Continuei parada, mesmo quando ainda não via mais seu carro. Senti um gosto salgado no lábio, era daquela lágrima que tentei segurar, mas que insistiu em rolar pelo meu rosto abaixo. Uma lágrima boa, com gosto de ter concluído a maior parte das minhas tarefas como mãe. Um gosto de missão cumprida. Poucos sabores são melhores.

Adentro seu quarto quase vazio. No guarda-roupas, somente algumas peças já surradas ficaram como testemunha de um tempo recente onde uma bagunça organizada reinava ali dentro. O cesto de roupa-suja vazio avisava que cuidar da roupa da casa levaria doravante muito menos tempo. Decidi refazer a cama com lençóis limpos, deixá-la arrumada, pronta para receber meu filho quando ele quisesse vir. Num ímpeto, acabei por fazer de imediato uma grande faxina no quarto e no seu banheiro vazio, que ainda exalava o cheiro do seu xampu. Quando terminei, sentei-me na cama feita. Que ele tivesse a certeza de que este quarto, esta casa, é o seu lar. Sempre e para sempre.

Resumindo: meu filho bateu asas e voou. Realizou o que vinha sendo preparado desde seu nascimento, o que custou muitas noites de sono, muitas alegrias, mas também preocupações e tempo, muito tempo.

Alguns pais têm dificuldade de aceitar o “ninho vazio”. Por um lado, se preocupam com o fato de que o filho agora terá que resolver os desafios da vida sozinho. Por outro lado, sentem repentinamente que falta uma parte de suas vidas. Principalmente as mães costumam passar por problemas como insônia e muitas vezes até depressão. Comigo foi diferente. Embora tenha ficado triste com a despedida do meu filho, eu não sofri. E aquela lágrima que rolou no meu rosto foi também de alegria por ter cumprido – e bem – o meu papel de mãe.

Talvez você não consiga nem imaginar tal situação e tenha medo de como irá se sentir quando o dia do adeus chegar. Tenho lido muito sobre o assunto, sobre as dores dos pais. E é por este motivo que escrevo esse depoimento. Quero te passar algumas dicas que, para mim, foram valiosas.

Quando um filho ou uma filha deixam o lar familiar, seja por motivo de estudos ou casamento, tal não acontece de surpresa. Houve todo um tempo de preparação até tal momento chegar. Portanto, eu me via várias vezes me despedindo dele, deixava a cena passar pela minha cabeça como um filme, para ir me acostumando e me preparando psicologicamente para a hora do adeus.

Eu fazia planos de tudo o que iria poder fazer quando tivesse então mais tempo à disposição. Finalmente iria poder me dedicar ao meu esporte predileto, iria poder viajar – e isto não só durante os finais de semana ou férias escolares.

Quando a casa ficou realmente vazia, meu marido e eu aproveitávamos – e ainda aproveitamos – o estarmos sós para namorarmos mais, a qualquer hora do dia. Passamos a fazer jantares românticos a dois e a convidar amigos com mais frequência.

E finalmente percebi o gosto do ter tempo para meus interesses! Passei a ir a museus em cidades vizinhas, visitar e sair com amigas, estudar italiano. Passei a escrever mais e com mais frequência. Passei a planejar os meus dias sem ter que levar em consideração os horários do meu filho.

Acredito que o bater de asas dos filhos são uma chance para toda mãe. Principalmente aqui na Europa, onde os filhos geralmente deixam o lar muito cedo, logo ao atingirem a maioridade aos 18 anos. Nós, pais e mães, ainda estamos jovens e podemos aproveitar a vida, sem a preocupação e tarefas do dia a dia que a presença de filhos traz.

Talvez eu possa resumir dizendo que, como em todas as situações da nossa vida, temos a escolha de ver o copo meio cheio ou o copo meio vazio. Te imploro: veja o copo meio cheio. Adote uma atitude positiva. Afinal, existe coisa melhor do que saber ser o seu filho um indivíduo capaz de se virar no mundo dos adultos e construir sua própria vida? Parabéns para nós, mães de filhos criados, missão cumprida! E que saboreemos a goles grandes nossa nova vida que começa no dia em que nossos filhos saem do abrigo quente das nossas asas. Viva!

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2 comentários
  1. Eu gostei pq vc fez dos limões uma caipirinha(como dizia a minha mãe)!!! Nem imagino a minha casa vazia, sem as meninas, mas qdo chegar a hora seguirei o seu exemplo. Um Bj.

    1. Querida! Você conhece muito bem minha filosofia: a de fazer limonada com limões. Pense sempre no ganho que será para você, quando suas filhas saírem de casa… não foque na perda, te peço! ?

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Sou do tempo em que a solidão era preenchida por respiros iguais a este que tive nessa feliz e ensolarada tarde do meio da semana.