Mais um mês pandêmico, iniciado com o infame “dia da mentira”, o famoso primeiro de abril, e eu sem nenhuma disposição para a brincadeira, nessa época de pandemia que parece já não ter fim, como uma piada de extremo mau gosto, daquelas que constrange e não faz rir.

A realidade é que estamos exausta/os. Alguém me perguntou: como você está? Eu respondi: Existe alguém que esteja 100% bem? E é mais ou menos isso. Não estamos bem, alguns melhor, outras/os nem tanto, buscando forças em locais inimagináveis para seguir nessa nova forma de viver, e eu, particularmente, agradecendo por não ter sofrido nenhuma perda próxima (deixo registrada toda minha solidariedade a quem a sofreu, receba meu abraço virtual \o/).

Ao mesmo tempo, de forma paradoxal, estamos em um estado de luto crônico pelo falecimento de anônima/os e famosas/os que, toda hora, chegam ao nosso conhecimento. Ai, como doeu a notícia da morte precoce do “melhor amigo de todas as mulheres brasileiras”, o talentoso Paulo Gustavo. Sobre essa perda irreparável e muito sentida, recomendo a leitura do texto escrito não pelas mãos, mas pelo coração gigante, da querida e admirável amiga @cool50s, idealizadora desse site (a quem sou eternamente grata pelo generoso convite). Se ainda não leu, clica no link. Imperdível e traduz nosso sentimento fielmente.

Essa nova realidade impôs a reinvenção das formas de interação social, mudando radicalmente o antigo modo de comunicação, movimento que já vinha ocorrendo e foi sensivelmente acelerado. O que já parecia um caminho sem volta, tornou-se nosso destino: o virtual, o mundo Matrix, a Rede, Eles, a Internet, a nova dimensão retratada nos filmes de ficção, repletos de menções à física quântica. Tudo isso na palma das nossas mãos, em uma tela touch screen.

E essa minha reflexão pessoal se estendeu tanto que, quando me dei conta, esse mês, que teve início no “dia da mentira”, já acabou, maio passou voando e já é quase época das festas juninas (e me bate uma saudade do meu tempo de criança, festejava tanto o mês de junho).

Uma estranha sensação que me acompanha há tempos, e com a qual agora me acostumei, assombra diariamente meus pensamentos: a constatação de que a nova realidade predominantemente virtual traz consigo, também, novos desafios nas já tão assoberbadas responsabilidades parentais. É angustiante pensar que, enquanto tutores de adolescentes, somos responsáveis pelo seu desenvolvimento saudável (dever de natureza constitucional, conforme o artigo 229 da Constituição Federal brasileira), acumulando obrigações de assistência, criação e educação; agora também sob a perspectiva dessa nova realidade virtual.

Como se manter atenta ao papel materno zeloso sob a ótica do mundo virtual, sem fragilizar ou sufocar a desejada independência e autonomia que desejam a/os adolescentes (e que também desejamos que elas/eles tenham)? É fato que acumulamos mais esse desafio; em uma nova dimensão, paralela, além da lida com a complexa transição do desenvolvimento físico, psicológico e emocional das/dos nossas/os filhas/os, em uma preparação saudável para a fase adulta.

S.O.S

É necessário saber exercer essa liberdade controlada de forma a estimular a autonomia e conferindo proteção. Soa tão difícil…

Me pego aqui pensando em criar um grupo de apoio e ajuda mútua (não sei que tempo arrumaria para isso): “Mães Desesperadas”, destinado a quem, como eu, entra nos tutoriais e páginas de conteúdo digital e após ler as nem sempre compreensíveis informações, decide, sem hesitar, continuar confiando mais um tempo nos princípios morais e éticos que transmitimos (dedos cruzados).

Pretender seguir à risca tudo que é recomendado para proteção e segurança no ambiente digital é algo impossível, porque escapa completamente do nosso grau de conhecimento técnico. Tenho a ligeira impressão de que uma plena compreensão da extensão dos perigos virtuais desencadearia uma inevitável síndrome do pânico (licença poética para meu lado canceriano, tendente ao drama e exagero).

A já exaustiva gama de responsabilidades parentais, no âmbito da chamada realidade virtual, ganhou mais uma, terrível e desafiadora, missão: a obrigação de fiscalizar e orientar o uso seguro da internet, e o pior, mesmo sabendo que temos mais a aprender do que a ensinar! Não sei o porquê, mas mesmo sendo uma já experiente operadora do Direito, o jargão “indispensável necessidade de proteção dos dados pessoais” me traz angústia e até mesmo uma pitada de desespero, quando penso nessa questão sob a ótica de mãe. Casa de ferreiro, espeto de pau…

Que a internet é um mundo à parte, uma espécie de Matrix, nós perrenials (da geração X mas que não gostamos dessa classificação geracional com base no critério etário – quem mais se identifica?), sabemos muito bem. E, sendo uma perfeita perenial uso e abuso da experiência para não temer ir desbravando esses mares tortuosos virtuais junto deles (os meus “adoles”).

Não troco minha cabeça de hoje pela cabeça da Camila mais jovem, jamais! Talvez até negociasse a troca do colágeno ou do metabolismo, mas jamais a sabedoria que só é adquirida com a experiência, que traz a compreensão de que vamos nos tornando nossa melhor (e às vezes pior), versão. O fato de não desconhecermos a existência de um bilhão de perigos inerentes ao mundo virtual gera alguma ansiedade e aflição, mesmo sendo experientes, pelo fato de não termos domínio completo sobre a rede.

Somos muito mais vulneráveis e suscetíveis a seus perigos e, consequentemente, não conseguimos proteger nossas/os “adoles” como gostaríamos. FUOMMMMM! Falhamos.

E é justamente aí que o bicho pega, nosso discurso vira contraditório e as esbravejadas segurança e maturidade emocional desmoronam. SOCORRO! Quem mais se desespera com esse tema? Estamos junta/os nisso. Antigamente a porta de nossas casas nos protegia dos males externos e influências erradas. Agora, temos um mundo dentro de nossa casa com interação de estranhas/os e terceiras/os e nem sempre temos o conhecimento técnico suficiente para lidar com isso a ponto de poder blindar nossos tutelados como deveríamos.

Confesso que me sinto zero segura com relação a esse tema e busco conforto ao lembrar que, assim como na vida real, na internet não conseguimos estar presentes em tempo integral, colocando à prova, tal qual na vida real, toda nossa incessante orientação familiar e exemplos dados desde sempre, entregando nas mãos de D’us, da natureza, dos mares, dos orixás, do poder cósmico, dos cristais, das plantas, e também dos bichos, só para garantir rs.

Vamos indo, mas lembrem-se: se correr o bicho pega, se ficar, o bicho come! BUUUUUUU.

“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.” Clarice Lispector

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