Vocês têm parado para se perguntar qual foi a atividade nova que começaram só para se divertir? Eu sempre comento sobre como a curiosidade tem me ajudado a quebrar barreiras e sair da minha zona de conforto, nesse meu processo de reinvenção. Mas confesso também que começar alguma atividade nova depois dos 40 anos não foi especialmente fácil, porque eu tinha a barreira do meu ego como um grande fator impeditivo.

Cada vez que me pegava com uma nova idéia, como me matricular em um curso de italiano ou em uma aula de balé fitness, me batia aquela preguicinha interna e… uma certa vergonha: eu, quase cinquentona, vou sentar numa sala de aula e mostrar toda a minha inabilidade com o italiano? Vou comprar todo um outfit bacana (atire a primeira pedra quem não corre para comprar roupinhas novas quando se matricula em uma academia) pra passar vergonha em uma sala cheia de mulheres saradas?

Ficava então presa ao mundo que eu conhecia, uma sala de musculação e me virando com o meu inglês. Até que aos 45 anos resolvi fazer yoga, numa tentativa de entrar para o mundo wellness depois que uma crise de pânico me derrubou. Fui com calma e tranquilidade, mas meu ser competitivo logo me estimulou a fazer as aulas de Power Yoga. Afinal, eu queria ser uma daquelas mulheres lindas, com seus tapetinhos da Lululemon que brilhavam nos seus Trikonasanas.

E ao invés de pensar na diversão, levei toda a história um pouco mais a sério.

Nas invertidas eu era um horror. Mesmo depois de quatro anos, não me afastava das paredes que me davam apoio. Na posição do escorpião me estabacava no chão sem dó. Seguia dia após dia nas minhas tentativas, o que se tornou um grande aprendizado, mas acabei me frustrando por não ter chegado onde eu queria. Porque eu não encarei aquela jornada como uma grande diversão?

E foi pensando nesse meu processo de reinvenção que me deparei com um livro sobre esse tema, “It’s Great to Suck At Something” (sem tradução para o português, e que quer dizer mais ou menos “é ótimo falhar em alguma coisa”), da jornalista americana Karen Rinaldi.

Karen sempre foi fascinada pelo mar, e conta nesse livro incrível como aprendeu a surfar depois dos 40 anos. Chamou na época um instrutor de surf em New Jersey e colocou em prática o seu sonho de menina, mesmo sabendo que jamais se tornaria uma grande surfista. Decidiu que sua prática aos finais de semana seria “um manifesto da meia idade”, em que iria perseverar em alguma atividade sem a pressão da perfeição.

É difícil aprender alguma coisa nova, especialmente quando ficamos mais velhos? “Pode ser”, Karen explica, “mas aprender coisas novas nos ajuda a crescer. O esforço do aprendizado nos ensina também a ter auto-compaixão, e nesse processo aprendemos a não nos julgar tão duramente quando falhamos”. E Karen se joga nas ondas há mais de dez anos, como diversão e sem esperar uma grande performance.

Será que conseguimos? Em um mundo altamente competitivo onde devemos brilhar em qualquer área de atuação, por que não fazer alguma coisa só por diversão?

O auto-conhecimento pode ser a chave para isso. Segundo Karen, quando tiramos a pressão de sermos excepcionais ou de termos que dominar uma atividade, nos permitimos viver o momento. Pode parecer simples e cliché, mas viver o momento é justamente onde falhamos mais. E nessa nossa maturidade, onde o auto-conhecimento é uma aquisição maravilhosa e a auto-compaixão uma meta a ser alcançada (sem pressão, por favor), porque não nos permitir fazer alguma coisa “just for fun”?

Reinvenção pode ser uma aula de forró, um curso de mídia digital, fazer parte de um grupo de degustação de vinhos mesmo sem saber a diferença de um tinto ou um rosé.

Eu resolvi criar um perfil no Instagram aos 50 anos, o @cool50s, e com isso passei a dominar alguns aplicativos que antes eram sânscrito pra mim. Se eu sou boa em editar videos? Um horror, mas me divirto. Aprendi a fazer lives e a me posicionar no celular com uma boa luz, e tenho a ajuda de várias amigas (todas com mais de 50, que fique claro), que também estão nessa jornada sem fim que é o aprendizado. Procuro fazer isso sem pressão, e sem grandes exigências para as minhas limitações.

Reinvenção. Com auto-compaixão e muito divertimento.

1 Shares:
5 comentários
  1. Amo suas eScritas, amo te ler.
    Fazer Ou aprender algo novo Não deixa A alma – e as vezes também o corpo, novas sinÁpses no cÉRebro) eNvelheCerem…

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você também pode gostar:
Saiba Mais

Muito prazer, Renata Rea

Minha história profissional é como um romance: mudei algumas vezes de rumo, larguei tudo para trás e vou contar um pouco para vocês.
Janeiro Branco
Saiba Mais

Os meus janeiros brancos

No Janeiro Branco, o relato sobre como é conviver com uma pessoa na família com Síndrome de Tourette e mais filmes e séries sobre o tema.
Saiba Mais

Ao meu encontro

Tenho uma necessidade grande de passar pelo menos um tempinho do dia sozinha. Com a pandemia, esses momentos passaram a ser raros aqui em casa.