“Bad Vegan”(no Brasil, “De Rainha do Veganismo a Foragida”), nova série da Netflix, segue a onda dos últimos crime-realities “Inventando Anna” e “O Golpista do Tinder”, e conta outra história surreal de um golpista atrevido que destrói tudo o que passa pelo seu caminho.
Ele, o algoz, entre nomes e empregos falsos, diz fazer parte de uma espécie de casta sobrenatural superior chamada Família (referência tão óbvia…), organização capaz de garantir aos dois -e ao pitbull Leon, xodó de sua amada- uma vida eterna de confortos e sucesso.
Ela, a suposta vítima, dona dos restaurantes de comida crua e vegana mais famosos de New York, Pure Food and Wine e One Lucky Duck, crédula fiel de todas as mentiras absurdas que o marido inventa com a cara mais limpa. Receita evidente para o desastre, o que de fato aconteceu.
Me impressiona demais a ingenuidade quase infantil dessas pessoas -aparentemente inteligentes e bem-sucedidas- que embarcam cegamente na lábia de estranhos desconhecidos, seduzidas por promessas vazias de um ideal fantasioso. Essa predisposição para a entrega sem referência.
Enquanto assistia, jurei nunca ser capaz de cair numa situação parecida, com toda força da minha esperteza latino-americana. Mas serão mesmo suficientes, intuição afiada e parca inclinação para a vulnerabilidade emocional, capazes de conter com êxito o magnetismo do charme de um mestre dos disfarces? Até que ponto conseguimos racionalmente repelir (e resistir) a oferta daquilo que desesperadamente estamos precisando? Difícil responder. E essa constatação é ainda mais assustadora que a série.