Um mergulho no cuidado da saúde pélvica, pelos olhos de uma especialista, que conta um caso verdadeiro de uma mulher que quer se curar da incontinência urinária.
Paciente nova e, como sempre, reservei o último horário para poder fazer um atendimento com calma e entender onde estavam os nós que atrapalhavam a saúde pélvica daquela mulher belíssima, no auge da maturidade.
Logo no começo, ela definiu a nossa trajetória: “Perco urina muito pouco, e raramente: só se a bexiga estiver muito cheia e fizer um esforço bem inesperado, como espirrar várias vezes ou pular. Não é caso de operar, e meu médico me mandou tratar com a senhora. O que a doutora vai fazer?”
Fiz todas as perguntas, ouvi tudo, examinei-a e disparei: “Se você quiser melhorar, vou te propor algumas tarefas, na medida e velocidade em que você conseguir (sempre tentando te puxar um pouquinho mais), e quem fará tudo será você. Eu vou conduzir. Topa um trabalho a quatro mãos?”
Óbvio que não, ela queria algo surpreendente, milagroso e sem esforço. Quando eu comecei a falar sobre saúde pélvica, uma ruga muito escondida em sua testa, surgiu. E uma luz amarela acendeu em minha cabeça.
Em seu relatório eu havia registrado que ela não gostava de beber água, sempre urinava semi-sentada quando estava fora de casa, jamais evacuava se não fosse em seu banheiro, fazia questão de não depender de homem para carregar peso e arrastar móveis e, além da corrida diária, resolveu começar a pular corda, desde que começou a engordar por qualquer docinho, na menopausa.
Resolvi comer aquele prato de sopa quente, pelas bordas. “Vamos fazer o seguinte, eu te proponho uma tarefa a ser executada rigorosamente, por toda uma semana. Em 7 dias, conversaremos novamente e você me diz como foi e o que achou.”
“Ok, eu aceito. Hoje, então eu só pago uma consulta e, na semana que vem será retorno?”
“Não, hoje você não me paga nada. Se você topar, fechamos o pacote do seu tratamento na semana que vem, e aí você começa a me pagar. Se decidir não fazer nada, passe aqui qualquer hora e acerte o valor de uma consulta com a secretária.”
“Qual é a tarefa?”
Fiz uns cálculos e afirmei: “Passar agora em uma farmácia e comprar um pacotinho de lenços umedecidos, e carregar na bolsa, para poder ir ao banheiro e sentar-se apoiando os cotovelos nos joelhos, onde quer que esteja, todas as vezes em que tiver vontade de urinar ou evacuar, sem segurar ou adiar. Todas as noites, deixar duas garrafas de 350 ml separadas na geladeira, uma delas você tomará em casa, a outra na rua. Em pequenos goles, da hora em que acordar, até 2h antes de ir para a cama.”
“Só isso?”
“Se você tiver mais alguma dúvida, estou à disposição, senão, é somente isso. Nos vemos semana que vem.”
Nos despedimos, e fiquei pensando por um tempo, na dúvida se havia feito uma grande besteira. Em vez de explicar exaustivamente tudo o que acontecia com a pelve dela, a proposta de tratamento, os valores, eu apostei tudo em um teste de mudança de hábito de uma semana. Poderia perder a paciente e uma consulta, e eu não estava em situação de jogar dinheiro fora…
Mas, diante de uma mulher empreendedora, firme e objetiva, dona de uma grande loja em um shopping de uma cidade vizinha, com uma expectativa de melhorar sem esforços e sem cirurgia, achei por bem apostar alto. Ou ela assumia o tratamento com toda a sua determinação, ou iria patinar, com um péssimo resultado, como algumas que eu já havia tido.
Era tudo ou nada.
O que você acha que iria acontecer com ela, em apenas uma semana de mudança de hábito? Será que a minha proposta faria alguma diferença, em tão pouco tempo?
Contarei na próxima coluna, fique ligada, pois você vai se surpreender.
Gisele Azevedo
Foto: @angiecouple