Fui criada em uma família espírita que acreditava que tudo o que ocorria na nossa vida era por interferência direta dos espíritos: se você está com depressão é porque tem obsessor; se bebe muito, culpa do encosto; se está nervoso, vai atrair maus espíritos. Parecia que nada do que eu sentia era legítimo.

Com o tempo, comecei a ter a sensação de que eu não tinha as rédeas da minha vida e o que tivesse que acontecer, aconteceria, independente da minha crença. Assim, perdi o hábito de fazer orações pedindo uma intervenção divina.

Não deixei de acreditar em Deus ou na doutrina espírita, mas essa parte da minha vida ficou bem atrofiada, como se fosse um distanciamento necessário para um autoconhecimento. Nos momentos difíceis, esse afastamento me deu uma sensação de desamparo enorme.

Cheguei a sentir inveja de quem demonstra uma fé inabalável, como deve ser bom ter o medo atenuado pela crença de que tudo está sob proteção divina e, como Ele sabe o que faz, tudo vai ficar bem.

Minha fé começou a ser ressignificada quando, em uma conversa com uma amiga, ela me contou de um sonho no qual ela estava em um barco com um mar muito agitado e, no sonho, rezou para Deus acalmar as ondas e assim foi atendida. Refleti e disse a ela que, se isso ocorresse comigo, eu rezaria para que aparecesse uma corda para eu segurar, pois não acredito que o mar acalmaria com minha oração.

Enxerguei o mar agitado uma representação da vida, acho difícil rezar para não ter problema. Hoje vejo que minha fé passa por acreditar que vai aparecer uma boia amarrada em uma corda no meio da tempestade e eu vou ter força para me agarrar. Não dá pra saber quem vai jogar essa boia, mas de alguma forma ela sempre aparece e, no final das contas, vai depender de EU enxergar essa boia e ter força para segurar.

Então entendi que estou em processo de descobrir outros modos de me aproximar do Divino. Um caminho do meio, que mistura a crença na qual fui criada e as reflexões da vida adulta. A vida ficaria muito dura e sem graça se eu não acreditasse que há um mistério que nos rege e, se esse mistério for totalmente desvendado, that’s over baby!

Afrouxar as rédeas e se entregar um pouco, também faz parte desse processo (confesso que acho essa parte a mais difícil).

Para quem está nesse momento de ressignificar a fé, recomendo assistir à serie “Em casa com os Gil”, disponível para os assinantes da Amazon Prime Video.
Quanto afeto e sabedoria Gilberto Gil nos passa ao analisar a experiencia humana e sua ligação com o Divino. E é sempre bom lembrar:
“Mesmo a quem não tem fé
A fé costuma acompanhar
Oh, oh
Pelo sim, pelo não”.

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3 comentários
  1. Também estou nesta vibe ! Lembro de minha mãe dizendo que quando ia à missa sentia a presença do Espírito Santo , era devota de Santo Antônio que segundo ela atendia a todos os seus pedidos ! Depois que ela se foi eu ia todos os anos na missa de Santo Antônio em homenagem a ela ! Apesar de nunca sentir este Espírito Santo que ela dizia sentir , nas vezes que precisei em situações difíceis (que gostaria de deixar claro aqui que não foram questões amorosas ) eu pedi a intercessão de Santo Antônio e nunca fui atendida ! Também Não entendo está fé inabalável que as pessoas tem ! ! Será que estou pedindo intercessão do santo errado ??

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