Essa época do ano sempre me encantou. Ainda. A chegada musical do dezembro, trazendo com ele a neve que não temos, as luvas, os gorros, os pinheiros, biscoitos de gengibre e chocolate quente.
Talvez pelos mesmos motivos óbvios que vem nos hipnotizando desde crianças, esse quase mistério, o encantamento com a figura salvadora do Papai Noel, pobre homem, dono de uma só vestimenta claustrofóbica. Eu apesar de tudo adoro.
Talvez pela fé ingênua do recomeçar, quando já adultos tentamos sustentar a materialização da possibilidade, com a pouca força das nossas últimas gotas de suor. A véspera da certeza do sucesso que o novo ano trará. Indulgência e benesse.
2022 será o meu primeiro ano como matriarca da minha pequena família. Sou agora a capitã do navio. Não imaginava chegar aqui nesse lugar meio solitário tão cedo, me foi colocado no prato, e é a partir dele que vou tentar reconstruir e construir nossas futuras memórias. Felizes.
Mas uma ceia sem árvore porque o meu luto assim o quis. Semitom. Ocupando literalmente a cabeceira da mesa, da cozinha, dos presentes, do espírito que me faz colocar non stop as trilhas que eu mais amo, “Il Volo Buon Natale”, “ Ella Fitzgerald & Louis Armstrong – Christmas”, “Michael Bublè”, “Uma segunda chance para Amar – Last Christmas -Trilha Sonora Original”. Preenchendo cada cantinho com velas e fios arroz de led, porque deles eu não abro mão.
Resolvi fazer desse Natal um degrau para o meu projeto transformação. Vida e culinariamente. Deixar de castigo a famosa torta de nozes (carregada demasiadamente dos simbolismos que criei para alimentar o meu masoquismo), usar essa castanha em alguma outra receita mais livre, mais contente, ressuscitar talvez um bolo natalino do caderno de receitas da minha bisavó.
Decidi transcrever esses papiros manchados das festividades passadas, a la “Julia & Julia” (o filme com Meryl Streep e Amy Adams sobre as vidas de Julia Child e Julie Powell), programar a minha própria aventura de janeiro a dezembro, degustando sabores do século passado, voyeur da mesa da família da minha mãe.
New Year’s Resolutions. Talheres e copos com bordas dourados, como o que imagino para a próxima metade da minha estrada. Luz.
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