Meu nome é Tina Lopes (@Fiftinah), sou jornalista e tenho 51 anos. Gosto de dizer que nós, da geração em torno dos 50 anos, somos as últimas orgânicas. Nascemos, crescemos, estudamos e, somente quando já tínhamos uma carreira, a internet chegou, revolucionando a comunicação, a forma de trabalhar, de interagir. As aulas de datilografia serviram para o computador, e se nos batemos, foi para dominar o mouse. Nada era intuitivo. Hoje estamos por aqui, nas redes sociais, nos apps, com a mesma desenvoltura de nossos filhos ou de colegas de trabalho (certamente, digitando mais rápido).

E esta nem foi a primeira grande transformação que testemunhamos. Nascidas no pós-68, fomos impedidas de evoluir com o mundo para uma nova era de ousadia e liberdade – pois crescemos durante uma ditadura – e educadas sob os costumes rígidos do machismo. Aqui o tempo havia parado na mentalidade “mulher tem que”: tem que saber sentar, tem que se dedicar ao lar, tem que ser submissa ao pai, ao marido, pois tem que casar, ter filhos, trabalhar e cuidar da casa também. Lembra? A diferença dos lares brasileiros dos anos 50 para os 70 era, no máximo, o cabelo de permanente das nossas mães.

Mas ainda pequenas assistimos à luta pela flexibilização dessas regras, começando por elas, nossas mães, que não conheceram o feminismo, não queimaram sutiãs, mas intuitivamente foram se reinventando – tiveram a coragem de enfrentar os anticoncepcionais fortíssimos, mesmo engordando e sentindo efeitos colaterais do que foi a grande conquista daquela geração. Por meio da TV e de revistas traduzidas, aprenderam o que era o orgasmo, o aborto, o divórcio, vislumbraram outras realidades possíveis. E assim fomos direcionadas para um outro destino.

Coube à nossa geração quebrar o silêncio incômodo dos lares e se meter em política, e mesmo quem não estava nas capitais (meu caso) sentiu o apelo das multidões, primeiro nas Diretas Já, depois na primeira eleição democrática, quando as mobilizações eram de esperança e não ódio; saímos de casa para morar com o namorado, ganhamos nosso dinheiro, nossa independência, exigimos respeito, cortamos o cabelo e nos vestimos como queríamos. Claro que não foram todas, nem tudo de uma vez, mas avançamos. Tivemos filhos ou não, separamos, casamos de novo, ou namoramos, ou preferimos ficar sozinhas. Criamos nossa turma, nossas carreiras, nosso futuro.

Um olhar assim, apressado, sobre nossa história coletiva, pode se tornar cínico ou desconsolado – porque ainda há tanto por acontecer. Mesmo as privilegiadas que nunca sofreram com preconceito racial, social, misoginia, gordofobia, hoje se veem atingidas de sopetão pelo etarismo. Queremos sexo, diversão, dinheiro, relevância, reconhecimento, espaço, mas já somos consideradas velhas ou ultrapassadas. E ao mesmo tempo, precisamos ficar espertas com a nova indústria que se forma sobre nossos desejos de consumo, beleza, perfeição, adequação, juventude eterna e mais uma vez nos oprime criando um novo padrão: a mulher madura ideal. Inatingível.

Sim, sentimos falta do colágeno e de como nos enxergávamos nos melhores momentos da juventude, não dá pra negar. E talvez não nos demos conta, hoje, de cada avanço, porque perdas sempre são muito mais sentidas – e nem vou falar da saúde mental, prejudicada depois de dois anos de pandemia sob o pior cenário político possível em nossa jornada.

Mas faço toda essa digressão nostálgica para concluir que hoje somos agentes de uma nova transformação. Acreditar e lutar por um futuro pleno, produtivo e feliz após os 50 anos é a nossa revolução e será nosso legado.

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Nesse 23 a ordem é descomplicar. Tirar-se da zona de desconforto (sorry Brené Brown) e procurar menos. Menos. Pausa.