Você não leu o título errado. Meu primeiro encontro via app de paquera se transformou em uma sessão espírita com direito a conselhos e revelações. Eu tinha acabado de sair de um casamento de sete anos e decidi baixar o Tinder para conhecer novas pessoas. Logo consegui muitos matchs e comecei a conversar com meia dúzia de homens. Estava tudo certo, pensei. Do app, levei alguns contatos para o Whatsapp e a conversa com o Márcio foi a que mais me cativou. Ele era esperto, atencioso, inteligente, bonito e tinha ótimas histórias. Foram 10 dias de papo intenso até que eu topei ter um primeiro encontro.
Não tinha muita ideia de como devia me comportar ou mesmo onde encontrar com ele. Na minha casa? Não, seria muito arriscado. Na dele? Também não me senti confortável. Por fim, decidimos marcar em um café. O local ficava a 200 metros da minha casa, mas ele fez questão de me pegar de carro. Pensei: OK, vou ceder, sei que alguns homens são mais tradicionais. Logo que ele chegou, percebi que, na verdade, ele não era tradicional/conservador, só queria se exibir mesmo. Márcio tinha uma BMW esportiva, bem chamativa. Me deu uma certa preguiça quando vi o carro, mas pensei: “nada de julgamentos precipitados, vai tentar algo novo”. E fui.
Entrei no carro e veio a primeira lição dos apps de paquera como o Tinder: as pessoas mentem. As fotos que apareciam no app eram de uns 10 anos atrás e de quando ele pesava uns 30 quilos a menos. Mas, ok, pensei novamente, vamos firmes no propósito de conhecer alguém bacana. Afinal, a conversa era ótima, eu precisava me permitir.
Quando chegamos no café, o papo seguiu fluindo como no Whatsapp e deu um certo alívio. Estava tudo indo bem, mas (e sempre tem um mas) ele começou a dizer que precisava me dar uns recados. Disse que isso não era muito comum, mas que ele estava ouvindo algo de seu guia espiritual e precisava me avisar. Foi logo falando que eu devia ter cuidado com uma amiga X, e descreveu a moça. Disse que ela era falsa e que tinha inveja de mim. Fiquei meio com o pé atrás, mas ele seguiu falando.
Também disse que eu devia parar de acender velas em casa. E eu acendo toda semana uma vela para o meu anjo da guarda, como ele poderia saber? Ele poderia estar chutando? Poderia, mas fiquei intrigada. Lembro que ele fez mais meia dúzia de previsões e paramos de falar sobre o tema. Na verdade, não dei corda. Sou espírita e achei todas aquelas revelações meio fora de hora, de contexto. Eu estava em plena consulta espírita em um café e não estava nada confortável com aquilo. E era tudo muito fantasioso.
Depois de uns 15 minutos de previsões, o date do Tinder seguiu naquele formato mais tradicional. Ele voltou a falar sobre vida pessoal, o filho, o trabalho. No fim do encontro, quando chegamos na porta da minha casa, ele me deu um beijo e foi só. Achei melhor não convidá-lo para entrar em casa. Fiquei reflexiva uns dias, comecei a checar algumas informações sobre o trabalho que ele tinha detalhado no nosso encontro e notei algumas inconsistências. E, veja bem como é a vida. Passados uns dois dias, encontrei algumas amigas e comecei a contar sobre essa minha primeira experiência.
Eis que decido mostrar a foto do moço para elas. Pasmem, ele era primo de uma das minhas amigas. Mundo pequeno? Total. Vivemos em uma ervilha. E, sim, minhas impressões estavam certas. Ela disse que ele era ótimo, mas muito fantasioso, exagerava em questões de trabalho e, o mais importante, que ele não era tão bom pai quanto tinha se vendido para mim. Confirmou que ele tinha mesmo essa ligação astral com outros planos, mas, pra mim, o fato de não ser um bom pai e ter mentido em algumas questões de trabalho, foram suficientes para que eu bloqueasse o moço e não desse mais continuidade.
E foi assim que, aos 40 anos, tive em tempo recorde um primeiro date no Tinder e dei o primeiro block em alguém no Whatsapp. Se isso me fez desistir dos apps de relacionamento? Não, mas a experiência foi fundamental para que eu tivesse encontros melhores no futuro. Mas isso é papo para outros texto.
1 comentário
Que relato !! fiquei presa nessa descrição… confesso que ficaria com medo se alguém começasse a me descrever assim, ainda mais no café e sendo no primeiro encontro. fiquei ansiosa pelo próximo texto.
abraço