“A mãe armênia…”

Mas por trás de todas as suas histórias está a história de sua mãe, pois a dela é onde a sua começa

Mitch Albom

Para mim sem dúvida de todos os valores que a mulher tem um dos mais incríveis é o de ser mãe.

Sou suspeito para falar. Fui criado por uma avó maravilhosa, tenho irmãs admiráveis que criaram filhas que têm se tornado mães igualmente incríveis e é claro, tem a Dona Teresa minha mãe.

Importante dizer que ela é brasileira, mineira e uma das primeiras esposas de armênio de sua geração. 

Não sei o que você sabe sobre a cultura do povo Armênio, mas não era fácil para um primogênito, filho de imigrante escolher com quem iria casar na década de 1950, principalmente se fosse com uma brasileira..

Setenta anos, 4 filhos, 6 netos e um bisneto depois, Dona Tereza está ai, firme…e não menos armênia que as outras mães, ou mayrig como falamos.

Ser mulher em uma cultura machista e patriarcal como a armênia não é facil, de um lado é uma subserviência exagerada – que eu acho extremamente paleozóica – mas de outro me pergunto se não é também por este contexto que as mães armênias são tão extraordinariamente amorosas 

Cada cultura tem a sua particularidade quando o assunto é mãe e vários filmes e músicas representam bem a italiana, a judia, a árabe ou a grega…mas, me desculpem, nenhuma delas é igual a mãe armênia.

Muita gente lembra do cuidado único da Dona Armênia com “seus filhinhas”, papel impecável da Aracy Balabanian (armênia, claro) em “A Rainha da Sucata” (1990), mas ali tinha só um pouquinho do que é viver – e sobreviver!- a criação de uma mãe armênia.

Mãe normalmente é altruísta e abre mão de muita coisa a favor dos filhos. Mãe armênia leva isso ao nível hard do sacrifício e não sem um certo drama. Elas literalmente “se acabam” em favor dos filhos e da família. 

É inspirador, mas também rende boas discussões acaloradas e ainda, leva à uma predisposição única de partir para a briga para proteger “as crias” e a família a qualquer sinal de ameaça.

Se amor de mãe é incondicional, a mãe armênia ama mais os filhos do que ela mesma, de verdade! Aliás nunca questione o amor de uma mãe pelo filho…principalmente se ela for armênia. Acredite, você não vai ganhar essa discussão.

Se por um lado a mãe armênia se orgulha dos sacrifícios que faz pelos filhos e família, de outro quando você faz alguma “burrada” elas são muito boas também em te lembrar o tamanho desse sacrifício. Experimenta tomar pau na escola, se divorciar ou fazer uma tatuagem e você será  lembrado várias vezes na vida das escolhas que você fez!

Na fé, mãe também é única e eu realmente acredito que elas tem uma linha direta com Deus, sem intermediários. Rezam toda hora, sempre falam um “vai com Deus”, “Deus abençoe filho”, têm sempre terço e santo pela casa. Acho que a italiana e a libanesa são bem assim também.

A mãe armênia já leva isso a outro nível. Elas têm uma habilidade incrível de invocar as hostes celestiais para proteção dos filhos e da família. Não tem santo Tadeu, Bartolomeu, querubim ou anjo que não se mexa quando a mãe armênia reza, e ai daqueles que não se mexerem!

Em casa estamos criando a terceira geração que conhece decor a reza da minha mãe quando perde a paciência; “infinita graças vos damos, soberana princesa…” não é armênio , mas todos sabemos ser seu último alerta antes do fim!

Mãe armênia quer todo mundo junto e se alegra com a mesa cheia onde ela consegue demonstrar toda a sua habilidade culinária. Aliás, se você é filho ou visita, certifique-se que você tem fome antes de sentar na mesa, por que você vai precisar comer e muito! 

Se não comer, vai ser lembrado até o final dos dias como “aquele que não come” ou “ o dia que você fez a desfeita de não comer”.

Nota:  se você é amiga ou namorada de um armênio, não vai puxar o saco comendo muito. Pelo menos na minha casa você seria lembrada para sempre como “aquela que come demais”. E acredite em mim, ela vai lembrar e falar isso para sempre.

Se tem uma coisa que mãe armênia faz é falar, de tudo. Uma mãe armênia quieta normalmente antecede algum tipo de ecatombe, como furacão, tufão ou enchente. Se acontecer, sai de perto e torce para não ser com você.

     Adoram falar com os outros e sempre tem um parente ou amiga que liga para contar da vida, normalmente é alguma desgraça que ela dá uma aumentadinha quando repassa a história.

Com mãe armênia não tem “DR” ou conversa “acalorada”, quando ela discute, traz à luz a sua história de vida e pode chegar facilmente a resgatar a sua árvore genealógica só para lembrar à quem você puxou naquilo que é a causa do problema. E se não tiver nenhum problema aparente, ela acha um pelo bem da discussão.

E tem a limpeza. Ah, a limpeza é uma coisa inacreditável.

Mãe armênia tem uma coisa doida com limpeza. Tudo impecavelmente limpo e guardado no lugar, por favor. E as janelas fechadas, para não entrar poeira e porque já é de tardezinha.

     Para a mãe armênia, filho não cresce, é literalmente o filhinho e ela precisa continuar perguntando a mesma coisa de quando você tinha 12 anos; “não tá com frio?”, comprou o seu remédio para viajar?; “tá levando pijama?”; “mas vai sair tarde assim?”. Mas isso acho que toda mãezona faz mesmo.

Tem muito mais, dava para escrever um livro sobre a mãe armênia, mas não se escreve nada sobre mãe sem destacar o mais importante, o amor.

Porque mãe é mãe, independente de onde veio ou qual a origem.

Minha mãe é aquela te abraça e deixa amor que fica mesmo depois que o abraço acaba. 

Tem aquele olhar que me  desarma no dia ruim, e o primeiro sorriso que preciso ver quando acontece alguma coisa boa.

É a mão dada no sofá e o beijo no rosto que me emociona sempre, porque é dela e porque ela é… minha mãe.

O filme de hoje é “Mayrig” (1991) de Henry Verneuil, lindo.

A música é uma que a minha mãe adora, “She” com Charles Aznavour (que como bom armênio também sobreviveu à  sua mãe!) www.youtube.com/watch?v=ajjdY070VU4

Cheers à minha e a todas as mães!

Fontes;

YouTube

Imagens;

Arquivo particular

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