Confesso que demorei para criar coragem e escrever essa minha primeira reflexão que, necessariamente, passa por uma análise pessoal do emblemático ano de 2020, o ano de 366 dias, bissexto, de enfrentamento e mudança brutal e desavisada de paradigma, o ano que deixamos de ter liberdade de ir e vir, que tivemos que, compulsoriamente, interromper o projeto de busca incessante pela felicidade. O ano que parece ainda não ter acabado.

Se tivemos tantos motivos para alerta, preocupação e tristeza, em 2020 também tivemos razões para nutrir a alma com novas esperanças, novas possibilidades, amadurecimento e reavaliação.

Cá estou eu caminhando nesse projeto novo, de escrita e compartilhamento de vivências. Confesso que antes de poder chegar até aqui paralisei momentaneamente; atravessei um processo que entitulei como sendo de “catarse emocional”, de purificação, de maior compreensão e de busca da superação de amarras que antes me impediam de experimentar o novo. Foi intenso e dolorido, como todo processo de transformação.

Fui tentar entender o motivo pelo qual estava passando por isso e descobri que, de alguma forma, as/os mais sensíveis e introspectivas/os vivenciam essa experiência de forma mais intensa algumas vezes na vida. Como nunca tinha tido consciência desse experimento antes, somente agora posso afirmar o quão necessário e salutar é.

Desde pequenas/os aprendemos a camuflar sentimentos, nos apresentarmos inteiras/os, felizes e fortes na frente dos outros, quando fazemos um machucado, uma vez que a intenção sempre é a de procurar minimizar o desconforto e seguir em frente. Seja o machucado físico ou espiritual. Fomos criadas/os para agir essa forma.

Ocorre que, muitas vezes, o tal “machucado” é mais profundo e o fato de o encobrirmos leva a um acúmulo de emoções represadas que, em algum momento, transbordam, afloram sem permissão, nos deixando estressadas/os, fracas/os, e até mesmo doentes.

Nessa situação, ou você toma as rédeas do autocontrole e enfrenta esse inesperado e gigantesco “swell” de frente, de forma corajosa, ou sucumbe e permanece paralisado, “tomando na cabeça” e engolindo água, num esforço cansativo que não te faz sair do lugar, apenas enfraquece e exaure.

Prefiro o enfrentamento. Gosto do autocontrole, do equilíbrio, da paz de espírito. E, na condição de advogada, mãe, filha, esposa, irmã e amiga penso que não é me nem dada outra alternativa.

Reconhecer nossos conflitos e externá-los já é, sem dúvida nenhuma, um primeiro passo, extremamente doloroso, mas absolutamente indispensável para liberação da raiva, da frustração, da decepção e de outros tantas dores represadas ao longo da vida permitindo, assim, um alívio e purificação.

Se faz necessária a diminuição das expectativas e cobranças próprias. Ora, sendo membro da espécie Homo Sapiens, subespécie Homo Sapiens Sapiens, a única sobrevivente entre os hominídeos, certo é que já vencemos muitas batalhas para chegar até aqui.

Transformamos o mundo em que vivemos, por meio do trabalho, organização social e comunicação, graças à capacidade intelectual. Isso já mostra o quanto somos vencedoras/es. A capacidade intelectual é dom inerente à nossa subespécie, e que, como qualquer dom, exige muito treino e aprendizado.

Intento aqui, nessas breves linhas, apenas começar dividindo algumas das escolhas que fiz nesse processo de busca de meu próprio fortalecimento pessoal, muito pessoais e subjetivas, mas que podem alcançar e inspirar alguém que se reconheça no processo, nesse mesmo processo que me encontro, desde já receba todo meu carinho e solidariedade: estamos juntas/os rs.

É certa a necessidade de manutenção de nossa saúde sentimental. Primeiro faço referência ao maravilhoso e indispensável livro multidisciplinar, importante ferramenta para minha compreensão da crise civilizatória trazida com a pandemia da Covid e análise e compreensão macro existencial: “Sapiens (Nova edição): Uma Breve História da Humanidade” do talentoso Yuval Noah Harari, professor israelense de História (não fosse digital, teria virado um dos meus livros de cabeceira).

Ao longo da leitura pude constatar que resta comprovado o fato de que, enquanto humanos, somos imperfeitos por natureza.

Partindo desse princípio, e em plena “catarse”, aceitei o convite de uma querida amiga e fiz o Módulo I de um curso maravilhoso que recomendo para qualquer pessoa que esteja em busca da evolução pessoal, idealizado pelas maravilhosas Claudia Frankel Grosman e Alexandra Rosenthal Levy chamado Daily Tools.

Esse curso aborda e ensina o uso de ferramentas que são colocadas à disposição do mediador para uso de qualquer pessoa, nas relações do dia a dia, profissionais ou não. Maravilhoso. E utilíssimo para minimizar conflitos desnecessários por interpretações equivocadas na comunicação.

Um verdadeiro manual para quem deseja resolver minimizar a problemática muito bem sintetizada nas palavras do cineasta, ator, poeta escritor, psicólogo franco chileno Alejandro Jodorowsky Prullansky: “Entre o que eu penso, o que quero dizer, o que digo e o que você ouve, o que você quer ouvir e o que você acha que entendeu, há um abismo.”

Ninguém nunca nos ensinou a agir com competência emocional, e nesse aspecto estivemos sempre à deriva, remando com nossas forças. Esse curso facilita a fala e, portanto, a expressão dos sentimentos, processo que minimiza o acúmulo de tensões conflitantes evitando, via reflexa, o caos emocional.

Não sabia, mas, intuitivamente, já estava buscando a cura do ainda desconhecido e exaustivo processo emocional que estava enfrentando e que auto denominei de “catarse emocional” (sem a licença cientifica de minha psicanalista, que fique claro hahaah).

Depois, aceitando outro convite de outra querida amiga (que sorte essas amigas que eu tenho!), fiz outro curso, igualmente rápido, mas extremamente valioso, em uma plataforma maravilhosa de treinamentos relacionados à escrita e literatura chamado Escrevedeira, com a professora, escritora, jornalista e mestre em literatura de não-ficção Ingrid Fagundez, que me fez retomar a prática da escrita na forma de diário. O curso chamava: “Outras possibilidades do diário – uma nova exploração”.

Em uma coluna do “The Guardian” li que estávamos vivendo um período único digno de registros autobiográficos. Esse foi meu chamado para retorno a uma antiga prática que já era minha conhecida dos tempos de adolescência, assim como o envio e escrita de cartas, pelo correio com selo postal, hábito completamente deixado de lado recentemente pela nova e mais ágil forma de comunicação atual.

Agora aqui escrevendo tenho a clara compreensão de entender como a escrita autobiográfica auxilia na elaboração e compreensão dos sentimentos, na detecção de padrões comportamentais muitas vezes prejudiciais à nossa saúde emocional.

Assim é que em 2020, sob todos os ângulos que analise, basicamente corri em busca de fortalecimento pessoal. Informação é poder. Partindo desse princípio, aos 44 anos, pela primeira vez na vida, tive curiosidade de saber meu ascendente e fazer meu mapa astral.

Fui primeiro em busca da compreensão do meu mapa astral amparado pela astrologia védica. Escolhi esse início embora o menos comum, por ser praticante da meditação transcendental há quase duas décadas, por convite do meu marido e parceria nos inúmeros retiros espirituais que fizemos, ocasião em que pude ter contato pela primeira vez com as técnicas do yoga, meditação e ciência védica.

Registro aqui meu agradecimento expresso ao meu marido e companheiro de jornada, Mauricio Felberg, pela parceria de sempre e especialmente pelo valoroso convite, que hoje reconheço como sendo um dos primeiros e mais importantes dos passos nessa longa e interminável jornada de busca pelo auto conhecimento.

Assim é que, por intermédio da consulta de Maharishi Jyotish (astrologia védica) organizada pelo meu mestre, formado professor de Meditação Transcendental em 1978, pelas “mãos” do próprio e então vivo Maharish Mahesh Yogi, também professor de ciências védicas e idealizador do site www.meditarsp.com.br, o Professor Markus Schueler, que posso hoje chamar carinhosamente de amigo, também tive meu primeiro contato com a posição dos astros e signos do zodíaco em relação à Terra no exato momento do meu nascimento, o que, segundo a ciência, exerce impactante influencia na nossa maneira de ser.

Não satisfeita e já na sequência, fui em busca então de outro mapa astral, no molde da astrologia ocidental, com a taróloga, astróloga, palestrante, colunista e criadora do site www.astrodestino.com.br, Andréia Modesto através de indicação confiável.

Dito e feito. Descobri que, além de ser canceriana, tenho ascendente em capricórnio, lua em touro, ponto de carma em escorpião, tudo a explicar muito sobre a minha personalidade e o meu modo de ser e de enfrentar as questões (entendedores entenderão).

Também descobri que meu nome de solteira representa para mim o número mais feminino que possa existir (amei essa descoberta) dando até a impressão que foi meticulosamente escolhido pelos meus pais (e não foi, não nesse sentido pelo menos). Eis aqui minha preocupação e necessidade de representatividade feminina e questões de gênero.

Ainda nesse rico estudo, descobri que meu atual nome, o de casada (sim eu alterei meu nome e isso pode ser pauta para uma próxima reflexão), igualmente sem intenção, representa alegria e conexão com as pessoas (isso explica um tanto de outras questões…), e também que meu número de nome de casada, faz com que as pessoas me enxerguem com extrema confiança.

Gostei de saber isso porque, além de ser característica importante na minha área de atuação profissional, sempre busquei me mostrar confiável e combativa, conduzindo a batalha alheia, por vezes, até de forma mais fervorosa do que as minhas próprias!

Por fim e sem esgotar o assunto dos processos de fortalecimento que busquei, não posso deixar de mencionar o maravilhoso processo que iniciei com a querida e talentosa Marina Mártims, que de cliente virou amiga e de amiga virou minha mentora em yoga. Ela é fundadora do mais charmoso e aconchegante espaço que conheço de meditation hub, o Nest to Rest, processo esse também absolutamente indispensável para enfrentamento de 2020 e que me trouxe até aqui, com segurança.

O yoga me ajudou a encontrar maior vitalidade e disposição ao amenizar o estresse e ansiedade decorrentes da inconstância e ambivalência causadas pelo atípico ano pandêmico, yoga essa praticada com a responsável mentoria da Marina, nas revigorantes sessões matinais, tão essenciais como rotina de autocuidado, indispensável para o permanente estado de prontidão e alerta que passou a ser, impiedosamente, exigido de todas/os nós.

Se por um lado em 2020 houve muita introspecção e dedicação plena às questões da nossa própria essência (as vezes buscando um inatingível e quase inalcançável estado de solicitude), por outro lado, e caminhando de forma bem próxima, houve muita troca e “catarse emocional”, muita intensidade nas relações interpessoais, muito enfrentamento e rupturas de antigos padrões de comportamento e conduta.

As pessoas em suas relações foram obrigadas a desnudar sentimentos, a remover máscaras, expondo seu âmago. É certo que nesse estado de coisas muitas foram as mudanças nos relacionamentos, especialmente no âmbito das relações familiares, que a certa altura agonizaram em clara necessidade de mudança, tanto para construção, quanto para desconstrução, também em igual proporção.

Da mesma forma que muitos namorados/as passaram a dividir o teto, vivendo em, ao menos aparente, união estável, também se notou acentuado aumento nos números de dissoluções conjugais. A confirmar a ambivalência do ano atípico e extreme, de igual modo, muitos casamentos sólidos e parcerias antigas se desfizeram, muitos namoros não engataram, muitos projetos foram suspensos enquanto outros tantos se solidificaram ainda mais, alguns namoros viraram casamentos e muitos projetos novos se iniciaram.

Tantas mudanças nas relações, como nem poderia deixar de ser, resultaram numa enxurrada de mudanças nas leis para se tentar estabelecer regras e, assim, normatizar esse ano de completo estado de exceção, que obviamente exerceu influências em absolutamente todas as relações sociais. Com tudo isso, evidentemente, além da demanda pessoal, ainda mais intensa foi a demanda profissional exigida em 2020.

Finalizo meu primeiro texto contando sobre o ciclone tropical do dia 31 de dezembro de 2020, poucas horas antes do grand finale do primeiro ano pandêmico, em absoluta conexão e “sincronicidade” com os 365 dias anteriores do atípico ano bissexto.

A chegada do ciclone sub-tropical de baixa pressão fez grande estrago no bairro em que moro, derrubando muitas arvores, causando danos generalizados, falta de água e luz, enfim, um caos completo.

Uma dessas árvores que caíram em obediência às forças da natureza desabou sobre a minha casa, destruindo grande parte do telhado e causando alagamento, destruindo de vez aquela ilusão de que, em poucas horas, com a entrada do ano vindouro, tudo voltaria ao normal.

Assim é que, as últimas horas do ano, sem luz, no meio da destruição e em completa sensação de desconforto, retrataram com fidelidade tudo que havia acontecido em 2020, o ciclone tropical que desenraizou árvores, arremessou telhas e causou muita destruição, não fosse literal, seria a metáfora perfeita para simbolizar o que nos aconteceu internamente nesse difícil ano em que vimos, sentimos e nos condoemos por tanto sofrimento.

Fomos obrigados a ser ágeis e aprender a enfrentar perdas inesperadas, medos e angústias sem grandes demonstrações, desenvolver novas formas relacionamentos não só com os mais distantes, mas também com os mais próximos, e mais, aprendemos a tentar preservar a normalidade na mais intensa anormalidade já vivida até ali.

Feliz 2021 para nós ! Tim tim.

“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.” Clarice Lispector

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8 comentários
  1. Que bom que voce reSgatou um Projeto que iniciamos no inicio da nossa juventude.
    Para Mim, escrever precisa ter corageM…
    EscreveR sobre Nossas prÓpriaS experiencias, maiS Coragem ainda. Sinto muitA ADMIRAÇÃO, NÃO apenas pela sua coragem em dar vida a um desejo de muito tempo, mas por toda essa Jornada de buscas interiores e novos conhecimentos que você relatou no texTo. PARABÉNS! Que venham mais textos e mais experiencias interiores. Um beijo grande.

  2. NOSSA…VC NÃO DEIXOU NADA PARA TRÁS.
    TEXTO MARAVILHOSO, ONDE VC BUSCA SAÍDAS PARA ESTE MOMENTO TÃO CONTURBADO ,QUE ESTAMOS VIVENDO.
    SIM CANILA ,NOVOS TEMPOS ,NOVOSPENSAMENTOS,NOVAS DECISÕES.
    Parabéns pela busca do novo. Nada será como antes..temos ,mesmo que procurar novos rumos para não sucumbir .
    PARABÉNS…VC ME ENCANTA!!!… BJ

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