(Texto escrito com Débora Mateus)

A alta-costura é considerada o coração da moda quando se trata de luxo. Entre suas principais características estão a exclusividade, o feito à mão e o primor pela alta qualidade dos materiais. Por isso, ela possui um estatuto específico e tem respaldo jurídico desde 1945. Para que uma maison possa ser considerada couture, ela precisa ter a designação que é concedida pela Federação da Alta Costura e da Moda, sob o controle do Ministério da Indústria da França.

Para receber o selo, deve preencher uma série de requisitos rigorosos, como criar peças sob medida e artesanais, ter qualidade superior em tecidos, bordados e modelagem, fazer apresentações privadas aos clientes. É preciso também apresentar, no mínimo, 35 looks para o dia e noite, em duas coleções anuais e públicas. Além disso, possuir pelo menos um ateliê em Paris com uma equipe de 20 costureiros técnicos.

Atualmente, existem 16 maisons no mundo que têm o selo haute-couture. Porém todos os anos, outras maisons que criam coleções cumprindo os requisitos da alta-costura. Podem participar ou como correspondentes, como é o caso de Viktor & Rolf, Atelier Versace ou como convidadas como a Balenciaga, que voltou a desfilar esse ano, depois de 53 anos de hiato.

A origem da alta-costura é atribuída à criação da primeira maison, fundada pelo costureiro Charles Frédéric Worth em Paris, 1858. Mas foi na década de 50, com o estilo New Look lançado por Christian Dior que ela teve seu apogeu. A exuberância das peças celebrou o fim dos tempos difíceis, vividos na Segunda Guerra Mundial, além de ser uma estratégia de trazer fôlego para os negócios de moda.

Era preciso fazer as mulheres voltarem a sonhar, com roupas que se apresentavam como verdadeiras obras de arte. Os desfiles não tinham trilha sonora e aconteciam em salões próprios, para um seleto grupo de clientes e jornalistas. As modelos carregavam placas com o número de cada look, para facilitar sua identificação.

Com o passar dos anos, os desfiles adquiriram mais robustez. Ganharam trilhas sonoras, produções elaboradas e cenários grandiosos. Seguem acontecendo duas vezes ao ano, em uma semana específica, e são muito disputados.

Com a chegada da pandemia, os desfiles precisaram ser reinventados, passaram a ser digitais e marcaram uma nova etapa histórica. Os designers produziram vídeos criativos e inspiradores. Iris Van Herpen, apresentou um vídeo que se tornou destaque da temporada de 2021. A campeã mundial de paraquedismo, Dimitille Kiger salta de um avião com um dos vestidos da coleção. Alta costura e esporte, movimento, fluidez, tudo em um único material audiovisual.

Nesta última edição, as coleções apresentaram roupas usáveis no dia a dia, com qualidade de alta-costura. Também vimos coleções carregadas de manifestos, com criações que certamente não funcionam no cotidiano, mas são repletas de ideais. Como a coleção de Pyer Moss, que homenageou inventores negros americanos.

É justamente esta alternância de estilos e narrativas que enriquece a moda. Com tudo isso, a alta-costura cria um um universo que combina fantasia, moda e arte. Possui uma clientela seleta que é formada por apenas quatro mil clientes no mundo.

É um mercado que ainda celebra a feitura manual. Algumas peças demoram meses para ficar prontas. É um slow fashion realmente slow. Em tempos de fast fashion, a existência de um segmento que se preocupa mais com a qualidade do que com a quantidade, é fundamental. Os profissionais do meio são bem pagos e o primor é valorizado. Mesmo que só atenda a uma camada muito pequena da população, influencia e inspira muita gente.

Débora Mateus @reframingwoman é jornalista e possui mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade Sorbonne (Paris, França).

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