E não é que Souvenir, ou Marek, o marinheiro, veio realmente me visitar em São Paulo? (“Champanhe com Souvenir”). Chegou de surpresa. Como minha mãe me contou mais tarde, a campainha tocou e lá estava o polonês no portão. Ela abriu a porta, convidou-o a entrar, sentar-se, ofereceu-lhe um café.

“Espere, Susanne volta já, foi só buscar sua nova Carteira de Trabalho.” disse minha mãe, mesmo sabendo que ele não entendia uma palavra sequer de português. Marek entrou, sentou-se, aceitou o café e começou a tirar presentes de sua malinha, dizendo, ao entregar cada um deles: “Souvenir, souvenir.”

Logo cheguei em casa e, após o primeiro susto ao vê-lo sentado no sofá, pensei: “Como pude um dia ter tido um caso com este homem e até chegar a cogitar um casamento?” Até hoje não sei, só sei que fora do navio, ele perdera completamente seu charme. Sua presença não significava mais nada para mim, sentia, na verdade, até um certo desconforto em tê-lo próximo. Tornara-se um estranho.

Em curta conversa e palavras claras, o fiz entender nós não teríamos um futuro juntos. Partiu-me o coração ver Marek deixar nossa casa triste e desapontado, rumo ao porto de Santos, onde embarcaria de volta à Polônia. Ele se tornou para mim uma lembrança de dias muito alegres e sensuais, que guardo até hoje com carinho. Marek se tornou para sempre um souvenir… Eu nunca mais o vi.

Arara-Export
Com a Carteira de Trabalho em mãos, marquei um encontro com Reto, aquele suíço interessado em me contratar para trabalhar na sua empresa em São Paulo. Esta conexão foi feita pelo pai da Myriam (“Bananas a todo vapor!”), lembra?

São Paulo

No dia marcado, tomei, com bastante antecedência, um taxi para a avenida Faria Lima, onde ficava o escritório da Arara-Export. Aliás, além da avenida Paulista, a Faria Lima era um endereço de prestígio nos anos 1980. Será que ainda é assim? Me pergunto. (Se você sabe, poderia me responder lá nos comentários, por favor…)

Vestia um terninho de linho que havia comprado especialmente para a ocasião, num xadrez miudinho de cinza, preto e branco, blusa branca e mocassins pretos com uma fivela prateada. Levava na mão uma pastinha com meus documentos e, no ombro, uma bolsa a tiracolo média, ambas pretas. Os cabelos usei presos num rabo-de-cavalo e quase sem maquiagem, cheia de coragem, fui.

Estava muito nervosa! Cheguei com tanta antecedência ao prédio onde ficava a Arara-Export, que tive tempo de andar um pouquinho pela redondeza. A alguns passos dali, ficava o shopping Iguatemi, o shopping mais hype de São Paulo na época, com suas lindas lojas. (E hoje? Me pergunto.) Distribuídos pela avenida alguns restaurantes chiques, muitos prédios de escritórios bacanas e muita gente bonita. Gostei.

Peguei o elevador que me levaria até o andar da tal empresa. Meu coração aos pulos! O que me esperava? Entrei na salinha, onde encontrei um rapaz simpático, de uns 20 e tantos anos, sentado atrás de uma escrivaninha. Após oferecer-me a única poltrona, desaparecera rápido, mancando de uma perna, pelo corredor estreito.

Minutos depois, vejo que vem em minha direção, a passos decididos e rápidos, um quarentão de semblante alegre e positivo, usando os cabelos escuros engomados, o que sempre dá uma impressão de muito cuidado pessoal. Vestia uma impecável jeans e camisa branca, um par de sapatos Budapeste marrom, que reluzia qualidade e cuidados.

São Paulo

Estendeu-me a mão e foi logo falando, num tom de voz dinâmico e agradável, em alemão: “Susanne? Finalmente nos conhecemos pessoalmente, muito bom isso! Venha, vamos conversar lá na minha sala.” E, quase simultaneamente, virou-se para o rapaz já sentado novamente à sua mesa, dizendo agora em português: “Miguel, traga por favor dois cafezinhos.” Virando-se novamente para mim, disse em alemão: “Você toma um cafezinho, verdade? Se me permite, vou à frente, te guio à minha sala.” Impressionou-me como ele mudava rápido de um idioma para outro.

Rodopiou elegante sobre os calcanhares e novamente em passos tão rápidos, os quais tive até dificuldade de seguir, andamos pelo corredor afora até entrarmos na sala bem iluminada devido às grandes janelas, que davam vista para a avenida movimentada. “Me conta, como foi sua viagem de navio? Deve ter sido muito interessante, mas muito longa, não? Quanto tempo?”, pergunta cordial, provavelmente na tentativa de quebrar o gelo e fazer-me sentir mais à vontade.

Fiquei fascinada por aquele homem! Que aparência bonita ele tinha! E que carisma, que charme! Cavalheiro e cordial, sabia impor, ao mesmo tempo, um extremo respeito. Depois dos primeiros momentos e um cafezinho acompanhado de conversas triviais, sentia-me à vontade e concentrada o suficiente, para ouvir o que Reto teria a dizer sobre sua empresa e minha eventual nova função ali.

Reto Hammerstein contou-me que vivia em São Paulo há muitos anos e há pouco tempo havia alugado aquele escritório na avenida Faria Lima, pois a empresa estava se expandindo muito rapidamente e era necessário mais espaço.

São Paulo

A Arara-Export era uma agência de compras contratada por grandes magazines internacionais, tais como Galeries Lafayette, na França. Ou El Corte Inglés, na Espanha, e Bloomingdales, nos Estados Unidos. Tinha como função pesquisar o mercado brasileiro e sul-americano à procura de produtos interessantes para aqueles magazines. Uma vez encontrados os artigos, acompanhar os compradores estrangeiros em suas viagens, muitas vezes também na função de intérprete. E finalmente, fazer o controle dos pedidos colocados até seu embarque para o país de destino. Parecia tudo muito interessante!

Minha função seria coordenar o departamento Europa, principalmente Alemanha, Suíça, Austria, Suécia e, num futuro, a Espanha. Teria que viajar com frequência pelo Sul do Brasil, assim como para Montevidéu e Buenos Aires. E visitar os clientes na Europa, pelo menos uma vez por ano.

Parecia tudo muito interessante. E, se você já está me acompanhando aqui há algum tempo, sabe que aceitei aquela oferta irrecusável que Reto me fez! (“Nem o paraíso é perfeito!”). Logo comecei a trabalhar na Arara-Export, morando em São Paulo e vivendo lá muitas experiencias boas, curiosas e interessantes. E muitos amores. Imagine, que até o Saulo voltou…

Mas… Vou ter que contar sobre isso num próximo episódio, pois o nosso tempo acaba aqui. Comente se gostou do que leu, se quer saber mais. Sua opinião é o único modo de saber se estou no caminho certo. Obrigada!

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26 comentários
  1. Que delícia viajar com você na sua história!!!
    Você nos envolve na narrativa deixando sempre um gostinho de quero mais!!!
    E que história heim?
    Parabéns querida!!!
    Bjs

    1. Obrigada por estar sempre aqui comigo! Já pode ler sobre a continuação com o Saulo. O episódio já está on-line. Demorei para responder aqui, desculpe !

  2. A faria lima continua hipe, Iguatemi com as lojas de marcas caras, uau que beleza que no proxomos episódio temos NOVOs amores, muito bom amiga.

  3. Ao ler o desfecho da sua histÓria com o polaco eu lembrei de muitas vezes nas férias, talvez Pela adrenalina e no momento relaxado, tomar um vinho, em um jantar ou até mesmo em um bar e ficar apaixonado pelo sabor… entRetanto ao chegar em casa e encomendar o mesmo vinho, para saborear e desfrutar daquele sabor apaixonante, já não tinha o mesmo sabor.

    1. Sabe que foi justamente isto que pensei? As coisas – e até pessoas – tem sabor e importancia diferentes quando nao nu lugar certo… Obrigada por me seguir aqui, Luciano! Um beijo!

  4. Susanne… a Faria LiMa continua hype, principalmente a Nova Faria LiMa! E o Iguatemi se tornou proibitivo com suas lojas cartier e BULGARI. Mas assim que vc vier vamos la tomar um café!

    1. Ah! Nao vejo a hora de rever esse lugar e se fosse com voce – maravilha!!! Entao o Iguatemi continua chiquérrimo! Na época nao existiam lojas dessas Grifes de ponta. Obrigada por responder, querida.

  5. Deva, muito bom te ver AQUI SEGUINDO MINHA HISTÓRIA! Quer dizer que ter um escritório na Faria lima ainda é simbolo de status. Vamos ver se alguém dá informacao sobre o shopping. Obrigada pela atencao, querida.

    1. Voce sempre fiel me seguindo aqui e me criticando de forma a me “botar para Frente”. Obrigada, querida. A claudia escreveu que o shopping ainda é endereco de grifes de luxo…

      1. Adorei! Suas estórias sempre ficam um gostinho de quero mais … Aguardando os próximos capítulos!
        Quanto ao shopping Iguatemi, continua glamoroso, é o lugar dos “ENDINHEIRADOS”!

  6. Susane: O texto segue gostoso e deixa CURIOSIDADE para os próximos capítulos . Ja aguardando mais uma HISTÓRIA. Sim, acredito que a Faria Lima segue sendo uma REFERÊNCIA comercial. Quanto ao Iguatemi em SP nao sei te dizer, mas em BRASÍLIA havia um Iguatemi antes da pandemia e hoje ha outro. Ou seja um novo perfil (restaurantes fora da praça de alimentação, supermercado.

    1. Havia já respondido uma vez, mas acho que sumiu. por isto, novamente: obrigada, querida, por me ler. A claudia respondeu lá em cima que sim, a Faria lima continua sendo endereceo de prestigio e o shopping Iguatemi, luxo puro! Bom saber, quero voltar lá…

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