“Fui apresentar meu marido para uma amiga do trabalho e esqueci o nome dela… Que vergonha!”

“Outro dia, conversando com umas amigas, queria contar sobre um prato típico que comi numa viagem recente e não lembrava o nome de jeito nenhum…acabei explicando para elas que era um prato de repolho fermentado que acompanhava a carne de porco e uma delas falou: ‘Você quer dizer chucrute?’ Risadas. Apesar de serem minhas amigas e terem mais ou menos a mesma idade que eu, confesso que fiquei com vergonha por esquecer a palavra”.

“Precisava ler um contrato superimportante para o meu trabalho, passei uma semana tentando me concentrar nele e nada. Aproveitei um dia de descanso meu, depois de uma noite bem dormida, e logo cedo consegui me concentrar, ler todo o texto e cumprir a tarefa. Mas demorei uma semana para conseguir!”

As queixas acima são relatos reais de mulheres que eu atendo no consultório e que servem para ilustrar como fica a nossa memória quando os ovários estão próximos de se aposentarem. Segundo um estudo científico sobre o envelhecimento das mulheres a deficiência de memória é uma queixa de 44% das mulheres na transição para a menopausa e 41% das mulheres na pós-menopausa.

Esse quadro se manifesta especialmente por esquecimento de palavras, que é o que chamamos de memória verbal, e pelo famoso “brain fog” ou “névoa mental” que diz respeito a um estado de confusão, esquecimento, distração, dificuldade de concentração e pouca clareza mental. Algumas mulheres são mais propensas a essas queixas e estudos observacionais mostraram que as dificuldades de memória, e até cognitivas, estariam mais presentes em mulheres que têm muitas ondas de calor, são sedentárias, têm baixa escolaridade e que não trabalham fora de casa.

O nosso cérebro é rico em receptores de estrogênio. Além disso, sabemos que a maior concentração desses receptores se encontra nas áreas de fixação de memória, concentração e aprendizagem. Ou seja, de alguma forma, esse hormônio age nas nossas células cerebrais e nas suas conexões, facilitando o trabalho. O que parece é que com a queda abrupta do estrogênio, na perimenopausa, ocorre uma pane cerebral e essas conexões neuronais são comprometidas, então fica mais difícil memorizar, se concentrar e aprender.

As boas notícias são:
Dificilmente essa dificuldade com a memória atrapalha as atividades do dia a dia e de trabalho.
A maioria das mulheres referem melhora da memória e das funções cerebrais na pós-menopausa, muito provavelmente por mecanismos de adaptação, ou seja, pelo resgate das funções antes regidas pelo estrogênio, mas que passam a ser feitas de outra forma.
A perda de memória na perimenopausa nada tem a ver com o desenvolvimento de demência no futuro.

Agora, a má notícia é que a terapia hormonal não ajuda muito com a dificuldade de memória nessa fase nem aumenta a nossa concentração… E isso, a ciência ainda não conseguiu nos explicar.

E o que ajuda? O que vemos é que o que realmente ajuda é a “musculação” para o cérebro. Nisso está incluído a leitura, que vai ajudar no aprendizado de novas palavras, estudar um novo idioma ou adquirir novo hobby, mudar o caminho de volta para casa, ou seja, mudar rotinas para estimular o cérebro a sair do automático. Também é importante manter hábitos saudáveis como parar de fumar, manter uma alimentação saudável e praticar exercício físico, ou seja, criar um ambiente saudável para este corpo funcionar na sua melhor forma.

Outro ponto são rotinas adaptadas para o esquecimento. Esses são métodos que ensinam a gente a ter planos de escape para situações constrangedoras ou até perigosas. Por exemplo, um despertador na cozinha para avisar tempo de cozimento de alimentos, um lugar específico ou recipiente para guardar os óculos, ou ter mais de um óculos na bolsa para o caso de esquecimento, planejar o dia a dia com antecedência separando de antemão materiais que serão utilizados, ter uma agenda para apontar compromissos, ou datas…

Enfim, a queixa de perda de memória na perimenopausa é bastante frequente, mas ela costuma ser leve e não chega a atrapalhar as atividades do dia a dia, por isso, caso o seu esquecimento esteja comprometendo o seu trabalho ou funções que você sempre desenvolveu, é necessário buscar ajuda especializada para descartar alguma doença mascarada pelos sintomas da menopausa. E lembre-se a sua saúde sempre será o seu melhor investimento, por isso, cuide-se!

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