Recentemente em um almoço com minha madrinha olhava fascinada o quão linda ela estava usando os cabelos prateados. Minha madrinha já é, para mim, uma referência de quebra de padrões. Se separou e mudou de carreira depois dos 45 anos, faz viagens incríveis sozinha, tem amigas espalhadas pelo Brasil. E com mais de 60 anos, trabalha apaixonadamente em algo que ama e a motiva e voltou a praticar atividade física diariamente.

Olhando para ela, fiquei pensando nos meus desordenados fios brancos. Faço parte do time de mulheres que ainda não conseguiu assumi-los. Nem tanto por falta de vontade, muito mais por dúvida. Tenho diversas questões sobre o impacto que isso me traria no âmbito profissional. Não que piadas de loira (já ouvi muitas) sejam algo agradável. Nunca são e seguidamente surgem em situações em que uma resposta adequada pode sair caro. Acontece que ninguém deixa de contratar alguém por conta de cabelos loiros. E, ao contrário, isso ainda acontece com os cabelos brancos.

No meu caso, em especial, a insegurança ainda é algo maior do que a vontade. E já que a quantidade, talvez não cubra completamente a cabeça, acabo desistindo todas as vezes em que me empolgo.

Preta Gil

Nesse dia, porém, sai de lá mais instigada. E tentando me inspirar – ou encorajar. Logo fiz uma rápida busca mental de mulheres – ativas profissionalmente – que já assumiram seus cabelos brancos. Tentei pensar em quantas delas estão realmente próximas à minha realidade.

Cabelos brancos
Iris Apfel

Começar a lista foi fácil. Tranquilamente alguns nomes famosos vieram à mente.

Aos 101 anos, Iris Apfel é uma mulher ativa, e uma das maiores referencias de estilo independente de idade. E usa cabelos brancos há tanto tempo que já nem lembro.

Também lembrei de Meryl Streep, com 73 anos, que usou o branco em suas madeixas pela primeira vez aos 57 no filme “O Diabo Veste Prada” e marcou uma geração com essa aparição.

E pensei em brasileiras que já mencionaram a pandemia como grande motivadora para assumiram os fios brancos. Foi o caso da apresentadora de TV Astrid Fontenelle, da cantora e empresária Preta Gil e da atriz Samara Felippo.

Com essa lista mental, consegui partir do meio de celebridades e chegar a um mundo mais real, onde pensei em mulheres incríveis que assumem os fios brancos sem medo. É o caso de Daniela Cachich, CEO da Future Beverages na Ambev, que usa os cabelos curtinhos e grisalhos desde antes de fazer 45 anos. Ela considera libertador o adeus às tintas. E de Kika Gama Lobo, jornalista, colunista aqui do Inconformidades e da ClaudiaOnline que tem um cabelão lindo todo prateado, que me deixa babando e cheia de inspiração.

Fato, não são apenas as celebs que estão assumindo os fios brancos, mas tem gente como a gente também. Mulheres que confirmam seu lugar no mercado de trabalho a partir da própria competência, e que imprimem os grisalhos à própria marca pessoal. Comecei a me animar. A acreditar que, talvez, meu receio de assumir os brancos e ser encarada como datada pelo mercado de trabalho seja algo já descolado da realidade e que pudesse ficar para trás.

E foi aí, quando iniciei um novo flerte com os cabelos grisalhos, quando cogitei repensar meus medos… que surge a repercussão estrondosa do caso Lisa LaFlamme.

Confesso que não a conhecia, e isso fez com que a sentisse gente como a gente – apesar de não ser. Lisa é âncora da TV canadense e uma das personalidades mais queridas e assistidas do país. Ela atuou por 35 anos em frente às câmeras e não teve seu contrato renovado. A decisão foi tomada unilateralmente pela CTV National News após Lisa assumir os fios grisalhos no comando do jornal, deixando alguns dos altos executivos do canal incomodados com seu “visual envelhecido”. O caso reverberou mundialmente e já inspirou a campanha #keepthegraey da Dove.

O fato é que ainda há, sim, bastante preconceito com os cabelos brancos para nós mulheres. E ainda são poucas de nós que estão livres assim para optarem por manter o prateado. Na teoria, assumir os cabelos brancos é um direito, uma decisão e uma opção de cada uma. Na prática, parece que quando se trata de carreira, nem todas tem essa liberdade para optar pela cor dos fios sem arriscar contratempos profissionais. Ainda depende bastante de onde e de para quem se trabalha, depende de quanto poder se tem e, principalmente, de qual a necessidade frente ao mercado para se assumir essa decisão. Na prática, na prática mesmo, o etarismo continua fazendo mais vítimas entre nós, mulheres.

E haja paciência para vermos tantos preconceitos ruindo.

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